Opinião: O Avenida, o Girassolum, o Golden e o esquecimento

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Diogo Cabrita

Diogo Cabrita

Conheci um casal preponderante em Coimbra há algumas décadas. Eram a Lurdes e o Pedro e tinham imenso potencial para que tudo corresse bem. A Drª Lurdes foi estomatologista, uma Senhora e uma simpatia. O Pedro era homem de negócios e herdeiro de alguns espaços de Coimbra. O cinema Avenida foi seu durante muitos anos até que optou pela visão moderna do centro comercial e fechou-se o velho cinema e formou-se o Centro Comercial Avenida de enorme sucesso durante uma década, com duas salas de espectáculos. Na altura não havia telemóveis nem Internet. Não foi há um século, foi apenas antes de 2000.
Já existia o Golden e pouco depois seria vital o Girassolum com mais dois cinemas estúdios. Não havia pipocas nos cinemas até estes o fazerem. O Girassolum estava carregado de lojas e os outros também. Foi o primeiro mandato de Manuel Machado que permitiu a abertura das grandes superfícies comerciais como o Continente. Não sei se umas coisas geram outras mas o fim dos Centros Comerciais de pequenas lojas deu-se pelo país fora e os cinemas que lhes estavam associados morreram sucessivamente.
A Lurdes formou um projecto de estomatologia para crianças que foi uma revolução no atendimento pediátrico e na postura de serviço público. Porque não se conhece a história em breve será terminado todo o legado da Drª Lurdes. O menos grave não é o afastarem-se dos Covões o Dr. Liberato e a Drª Olimpia. Há uma obra monumental de serviço e de entrega e empenhamento que morre numa decisão que ninguém discutiu. O caso dos shoppings é digno de filmes. Hoje alugam-se lojas pelo valor dos seus custos. Com esses dinheiros os donos fazem face aos encargos de ser dono. Pagam os condomínios e o IMI de lojas fechadas. Muitos espaços que renderam dinheiro, hoje são carcaças empobrecidas e fechadas. Há no meio exemplos de negócios que perderam a eficácia com a chegada da Internet e dos downloads como o vídeo clube do Sr Amilcar. Eu fui o 1232 se não me falha a memória e era dos números mais baixos. Volto ao casal para fechar o circulo do artigo. Não os vejo há muito e temo que o rolo compressor do tempo esteja a querer apagar suas memórias mas quer o Pedro quer a Lurdes foram duas figuras de uma gentileza e de uma postura que lembram os Gentleman ingleses e deixaram uma marca em Coimbra que muitos não se apercebem e outros destoem como terroristas assanhados. A história não é tudo, podem melhorar-se os projectos, acrescentar valor às ideias, mas tem importância não “delete”, não “erase” para nos definirmos como gente.

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