Opinião: Do mundo infinito à crise global do ambiente

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Pedro Mota Curto

Pedro Mota Curto

Realizou-se na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, nos dias 28, 29 e 30 de outubro de 2016, o Congresso Anual da Associação dos Professores de História. Diversos oradores, oriundos não só da Universidade de Coimbra como também de outras universidades, apresentaram interessantes comunicações, na sua maioria enquadradas no tema “Questões Transnacionais: Migrações, Segurança e Ambiente”.

Viriato Soromenho Marques, professor catedrático na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, apresentou uma reflexão subordinada ao tema: “Obrigado a Cooperar para Sobreviver – das Utopias do Mundo Infinito à Crise Global do Ambiente”.

Na sua intervenção, recuou quinhentos anos no tempo, até 1516, quando Thomas More publicou a sua célebre obra, Utopia. Posteriormente, outros autores abordaram o tema das sociedades utópicas, de um modo geral sempre confinadas a sociedades pequenas e isoladas.

O problema é que o mundo atual, a utopia do mundo atual e do mundo futuro, não passa por sociedades isoladas mas antes por sociedades infinitas e profundamente globalizadas. A utopia do futuro é uma utopia globalizada, infinita, na qual todos vivem com todos e dependem de todos. Assim, em 2016, a omnipresente globalização surge-nos como uma distopia deste novo mundo infinito.

Se queremos que a Terra continue a ser um local habitável será necessário estabelecer regras e entendimentos à escala global. A habitação sustentável da Terra dependerá de um regresso ao primado da política em detrimento do económico. Como não se pode mudar a natureza humana teremos que alterar as relações entre a cultura humana e a natureza. As evidentes e preocupantes alterações climáticas indicam-nos que estamos a ultrapassar os limites ambientais, com risco para a sobrevivência da própria espécie humana.

Num palco podemos representar diversas peças de teatro mas não podemos destruir o palco. O problema é que hoje estamos a destruir o palco. A humanidade está a alterar a forma e o equilíbrio do mundo. Vivemos num período de grande pessimismo cultural. A globalização dificulta limites e regulações.

Estamos a passar da “Era do Risco” para a “Era da Incerteza”. A crise ambiental combina-se com a crise económica e financeira e projeta-se na insegurança hídrica, alimentar e energética. A atual crise global do ambiente levar-nos-á a uma perigosa aproximação dos limites da vida.

Viriato Soromenho Marques propõe um “Modelo Compulsório”, para que os países trabalhem no que lhes é comum: alterações climáticas, regulação da globalização, direitos humanos, combate à pobreza e desigualdades.

O mundo precisa de resolver estas questões. Será necessário um tratado internacional, urgente, “a New Prospect for Global Governance”, um “SOS Treaty”.

Depois da utopia finita de 1516 impõe-se agora, em 2016, uma utopia infinita, sob pena de destruirmos o palco, onde a humanidade tem atuado, nem sempre com grande sucesso. Utopia ou distopia? Eis a questão!

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