Opinião: Três dias, três mortes, três vidas

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Diogo Cabrita

Diogo Cabrita

Conheci três pessoas que nasceram iguais como todas as outras. Todos nascemos de modo similar, mais natural, mais cirúrgico, mas sempre nús e pequenos. Somos dependentes na totalidade ao nascer.

Trazemos agarrado a nós uma genética pré definida e agarrassenos a educação e a circunstância. Somos diferentes se nascemos pobres na India ou se nascemos ricos na China.

O Ramão nasceu com uma capacidade de amizade que é rara nas pessoas normais. O Ramão tinha limites na pré existência. Como todas as crianças assim era protegido pela mãe e chegou aos cinquenta e tantos quase sempre feliz. O Ramão amava os amigos e gostava de os ver.

O erro está em nós que acusamos dificuldades com a diferença. Vi-o menos do que devia. Morreu pouco depois de fazer um ano do falecimento da mãe. Costuma ser assim o destino destas pessoas. O Ramão há-de chegar ao céu sem festa, sem grandes manifestações. Ele era bom, infinitamente à espera do amor. Raramente resistem à falta da referência.

Morreu também o Professor Pedroso de Lima. Ouvi de outro Pedroso de Lima uma comovente homenagem e a história do seu percurso. Leu ainda um texto impressionante sobre o abraço, escrito pelo falecido, que nos deixou de queixos caídos. Este Senhor era uma referência na dedicação, na ideia de escola, na força de abrir portas à ciência. Doutorou vinte e uma pessoas na Faculdade de Medicina e deixou a sua obra continuar com a Professora Filomena que já doutorou mais dezoito. Isto é Universidade.

Isto é o processo Escola na plenitude. Ele nunca desistia dos projectos, não abandonava os sonhos e era no seu corpo grande, sua voz de respeito, um perfume de solidariedade e amor. Não invejava, não perseguia, mas empurrava e incentivava. O pai Pedroso de Lima adorava música e desporto. Ouvia os seus discos exóticos e especiais. Adorava o som na sua qualidade física. Morreu um cérebro, rodeado de companheiros e amigos. Há-de chegar ao céu entre bandeiras, fórmulas físicas e hinos académicos.

Morreu outro homem bom. Esse conheci mal, mas vi algumas vezes. Foi-se mais uma referência de Moçambique no futebol português. Mário Wilson deu muitas alegrias nos clubes por onde passou e fez parte desse mundo do espectáculo que são os clubes e os estádios. Três mortes de três percursos tão diferentes, de três seres humanos tão dissonantes, mas todos tão fortes no seu espaço. Mario Wilson é a morte mais visível e chegará ao alto entre adeptos, amigos e cores de clubes.

Fascinou-me esta ideia de como somos diferentes na vida, nós que somos tão iguais a nascer e tão únicos na morte.

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