Opinião: David contra Golias

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Santana-Maia Leonardo

Santana-Maia Leonardo

Sou adepto de um clube português que, segundo o último estudo da UEFA ( 2015 ), tem menos de 1% dos adeptos portugueses. Por sua vez, só o Benfica tem 47% dos adeptos portugueses e Sporting e Porto juntos têm outro tanto. Ou seja, o Golias lusitano tem mais de 93% dos adeptos portugueses, sendo a cabeça e o tronco do Benfica e os membros repartidos por Porto e Sporting. Por sua vez, o David lusitano tem apenas cerca de 7% de altura, representando a soma dos adeptos de todos os outros clubes.

Sempre que defendo o modelo inglês da repartição das receitas dos direitos televisivos, os meus amigos do Benfica, Sporting e Porto olham, para mim, com a mesma arrogância, desdém e alarvice com que o gigante Golias olhou para o pequeno David:

“Nós somos os maiores, somos os que temos mais share, somos os que vendemos mais jornais. Vocês não contam para o totobola. Muito ganham vocês. Se não fosse o Benfica, o teu estádio estava sempre às moscas. As pessoas querem é ver o Benfica e ler notícias do Benfica.”

Eu olho para eles e penso cá para mim: a vossa sorte é os clubes “pequenos” não terem o meu feitio, caso contrário Benfica, Sporting e Porto, os três juntos, caíam de borco como o gigante Golias.

Mas vamos lá raciocinar como David quando desafiou Golias.

Como todos sabemos, sem a centralização dos direitos televisivos, cada clube pode apenas vender os direitos televisivos dos jogos em sua casa. Por outro lado, em termos desportivos, é bem mais importante para o Benfica o jogo em casa do “clube pequeno” (qualquer perda de pontos pode ser trágica) do que para o “clube pequeno” o jogo em casa do Benfica (a derrota é o resultado natural).

Ora, basta somar estes dois factos para se concluir que David, com uma simples pedrada, derrubava Golias.

Como? É fácil: se Benfica, Sporting e Porto só podem vender os direitos televisivos dos jogos em sua casa e se esses jogos não têm relevância desportiva para os outros clubes, estes clubes, se se organizarem e quiserem, podem reduzir a zero o valor comercial destes jogos, fazendo com que ninguém os queira ver ou comprar (ex: falta de comparência, jogar com os juvenis, os jogadores não se mexerem, lesionar-se a equipa completa no primeiro minuto, etc).

Veríamos quantas televisões estariam interessadas em comprar estes jogos e se os adeptos dos clubes com mais share também acorreriam ao Estádio para ver a sua equipa a jogar sozinha. Por sua vez, se os adeptos dos “Golias” quisessem assistir aos jogos das suas equipas nos estádios dos “David” das duas uma: ou as televisões pagavam os direitos televisivos bem pagos ou os adeptos dos “Golias” tinham de pagar bem caro o preço dos bilhetes. Aliás, nem era preciso levar isto à prática, porque bastava a ameaça séria para Golias cair de borco.

O problema dos clubes pequenos não é serem pequenos é serem dirigidos por gente pequenina que nasceu para lamber as botas de Golias, em vez de lhe acertar com uma pedrada no meio da testa.

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