Associação acusa Câmara de Coimbra de inviabilizar apoio da Direção-Geral das Artes

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A associação CulturCentro acusa a Câmara de Coimbra de ter inviabilizado o financiamento do III Ciclo de Concertos de Coimbra (CCC), em 2017, pela Direção-Geral das Artes (DGArtes), mas a autarquia tem outra versão dos factos.

“A não assinatura atempada de uma simples carta de intenções invalidou um projeto em que estavam envolvidos vários músicos nacionais e internacionais”, disse à agência Lusa o presidente da CulturCentro, Tiago Nunes.

A associação considera-se “profundamente lesada pela inexplicável inércia” da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), indicando que estava em causa um apoio de 20 mil euros.

A iniciativa “já contava com o apoio formal” da Universidade de Coimbra, Turismo do Centro e Fundação Bissaya Barreto, entre outras entidades, que emitiram as “cartas de intenção” exigidas pela DGArtes a tempo de a CulturCentro as incluir na candidatura.

Ao DIÁRIO AS BEIRAS, a vereadora da Cultura começa por esclarecer que “não se tratou nunca de uma simples carta de intenções, mas sim de uma carta que validaria a utilização do Convento São Francisco para quatro concertos, que integravam um projeto que apenas a 18 de agosto – data limite das candidaturas à DGArtes – foi remetido à CMC”.

Carina Gomes especifica que o dito projeto não passava de “um kit de imprensa, onde figuravam oito concertos, dos quais quatro se realizariam no Convento São Francisco, sem indicação de espaços concretos, sem descrição de responsabilidades financeiras, de bilhéticas ou obrigações fiscais”. E acrescenta que só em outubro, a associação “enviou um projeto merecedor de análise, isto é, com programação acompanhada de orçamentos e repartição de responsabilidades”.

A CulturCentro conta que, em junho, a associação solicitou uma reunião à Câmara “com vista à realização” do Ciclo de Concertos de 2017. “Pretendia-se que a CMC fosse parceira deste projeto através da disponibilização de alguns espaços sob a sua alçada”, refere, recordando que a reunião se concretizou em julho, com o diretor do Departamento de Cultura, Francisco Paz.

No dia 24 de julho, através de correio eletrónico, foi enviada “toda a informação” do projeto a esse responsável, que “se comprometeu a assinar uma carta de intenções de apoio logístico a alguns dos concertos dentro do prazo” de entrega da candidatura à DGArtes, afirmou Tiago Nunes.

Neste ponto, Carina Gomes entende haver lugar a algumas correções. “Toda a documentação deveria ter sido enviada para um email oficial da CMC, como qualquer pessoa faria quando se dirige oficialmente a uma instituição.

Quanto ao alegado compromisso de Francisco Paz, a vereadora chama a atenção: “Tal nunca seria verdade, porque o sr. diretor do Departamento de Cultura tem perfeita consciência de que estas cartas apenas são assinadas por quem representa legalmente o Município”.

Seja como for, a verdade é que, a 18 de agosto, último dia do prazo, sem que a associação tivesse “ainda recebido a prometida carta”, Tiago Nunes telefonou ao diretor do Departamento de Cultura, que informou que a carta “teria de ser assinada” pelo presidente da Câmara, Manuel Machado, devendo a associação “enviar um email” a formalizar o pedido, o que foi feito.

“Francisco Paz assegurou aos representantes da associação”, em contacto telefónico, que a carta “seria enviada por email até ao fim da tarde”, o que não se verificou, segundo a CulturCentro.

A associação terá enviado de imediato um email a Manuel Machado em que afirmava: “a candidatura foi submetida hoje sem a carta de apoio da Câmara, o que poderá implicar a rejeição do apoio por parte da DGArtes”.

A vereadora da Cultura estranha que “alguém que está efetivamente preocupado com um prazo” só contacte a Câmara no último dia do prazo. “Este é um sinal evidente da confusão com que todo este processo foi gerido por parte dos representantes desta associação”.

Com tudo isto, só no dia 5 de setembro, mais de duas semanas fora de prazo, a carta da autarquia foi enviada à CulturCentro, que a remeteu logo à DGArtes.

Esta, por sua vez, revelou em 03 de outubro a decisão de recusar a candidatura.

“Todos os elementos de uma candidatura, nomeadamente documentos ou declarações de apoios ou parcerias, devem ser emitidos e datados até à data da submissão das propostas”, confirmou a DGArtes.

Este desfecho “é o resultado da precipitação de jovens bem intencionados que querem fazer coisas de valor, mas não agiram da melhor forma”, comentou Carina Gomes. “Não havia nenhum interesse em que esta candidatura não fosse apoiada”, até por que a Câmara “passa sempre essas cartas” a diferentes entidades, adiantou.

Ao DIÁRIO AS BEIRAS, a vereadora vai mais longe: “Os dirigentes desta associação parecem não ter consciência do contexto que caracteriza as candidaturas e os apoios concedidos pela DGArtes. Um exemplo: a OCC deixou de apresentar candidatura nesta modalidade porque, apesar dos seus longos anos de existência e do trabalho comprovado, não conseguia ter candidaturas aprovadas. Agora, apresenta candidatura apenas na área da internacionalização das artes”

Ou seja, “mesmo que a candidatura tivesse sido admitida, nada garante que fosse apoiada”, afirmou, sublinhando: “Não podemos esquecer que estamos a falar de uma candidatura apresentada por uma entidade com cerca de dois meses de existência, concorrendo com estruturas profissionais, algumas delas com 20 anos de experiência e trabalho comprovado”.

À Lusa, Tiago Nunes lamenta “que se tenha quebrado a parceria” com a CMC, que vigorava desde o primeiro CCC, “por meras falhas de comunicação ou puro desinteresse por um projeto que muito contribuiria para dignificar a oferta cultural da cidade”.

Ao DIÁRIO AS BEIRAS, Carina Gomes reage: “Não entendemos esta declaração de quebra de parceria entre a associação e a CMC. No dia 30 de setembro, reuni com o Sr. Tiago Nunes e solicitei que nos fosse remetido um projeto mais completo, com orçamento e repartição de responsabilidades. Este foi remetido à CMC a meio da semana seguinte. Encontrava-se, agora, a ser devidamente analisado pelos serviços municipais, pelo que muito estranhamos esta súbita reação acusatória por parte da associação. Lamentamos que agora declarem que a parceria se quebrou. Da parte da CMC, estávamos, até ontem, a estudar hipóteses de apoiar o III Ciclo de Concertos”.

O jovem pianista Tiago Nunes, fundador e diretor artístico do CCC, é o primeiro presidente da direção da CulturCentro, fundada em julho.

A assembleia geral é presidida pelo padre Luís Costa, presidente da Cáritas Diocesana de Coimbra.

TEXTO ALTERADO ÀS 18h37 DO DIA 14 DE OUTUBRO

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