Opinião: Cuidados continuados e família

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Diogo Cabrita

Diogo Cabrita

Vivemos numa sociedade do desejo e da ganância e desse modo cabe mal a entrega, a dádiva e o sacrifício.

Há quem pudesse melhorar a vida de familiares distribuindo o que produz em excesso, mas prefere um carro de sonho, uma vivenda onde morrerá só, um jardim que um dia estará ao abandono, uma casa de praia que manterá fechada 11 meses por ano.

A criação de espaços colectivos para tratamento e arrumo de idosos e de menos válidos é em si mesma uma premissa que decorre da ideia da colectivização e portanto contra a prevalência da família. Família como célula do tecido social onde existimos como organélas da célula. O abandono dos cuidados ou da atenção são já os primeiros sintomas de uma doença da sociedade.

A construção de espaços remotos de isolamento da doença é outro profundo erro da filosofia vigente.

Mas há claramente situações atrozes onde a capacidade do núcleo familiar se esgota, mesmo com apoio. A desresponsabilização dos indivíduos é outro sintoma da doença.

Não sabem e não querem saber como melhoravam a vida dos seus se fossem mais interventivos, não em visitas e falsa presença, mas com as mãos, massajando, lavando, participando.

As unidades de recuperação pós cirúrgica seriam importantes para levantar os doentes e trazer de volta ao gestual quotidiano, mas há algo melhor que a presença no seu local com os seus (acreditando na normalidade da célula)?

Hoje uma maioria traz o seu idoso mal cuidado pedindo desde logo que vá depois para os continuados. Podemos fazer diferente?

Claro, investindo na proximidade, vigiando com afinco os cuidados e trazendo à participação os familiares desempregados (pagos, obviamente, pela tarefa) e corrigindo as ineficiência da habitação para o cuidado.

Outro drama mais difícil e complexo deixo para outra discussão: a demência do idoso e os seus cuidados.

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