1. Muita gente ainda não percebeu, apesar dos milhares de milhões de dinheiro de fundos comunitários gastos, que um país minúsculo como Portugal tem problemas muito sérios de desigualdades entre litoral e interior, e entre grandes centros urbanos e locais com “menos oportunidades”.
O JN dizia ontem que os concursos de médicos especialistas para o interior e Algarve ficaram quase todos vazios ou perto disso. Nos Hospitais da Guarda, Covilhã e Castelo Branco só apareceram 9 candidatos para 61 vagas de especialistas. No Algarve ficaram por preencher 31 dos 73 lugares.
Formamos pessoas, com dinheiro dos contribuintes, e muitos vão embora do país. Outros preferem locais mais competitivos em termos de oportunidades também no setor privado. O número total de especialistas não chega para o país. São necessárias regras muito mais apertadas que não permitam que o investimento em RH nesta área não seja desperdiçado, deixando grande parte do país sem a necessária assistência médica. Consultei o estudo “Atuais e Futuras Necessidades Previsionais de Médicas (SNS) – 2011”, publicado pela ACSS – Administração Central do Sistema de Saúde, que confirma que na esmagadora maioria das especialidades há falta de médicos em Portugal.
Gostava de saber a opinião do Bastonário da Ordem dos Médicos José Manuel Silva.
Portugal não gere o seu território, não o pensa, não quer saber de o aproveitar, atira dinheiro (aos milhares de milhões) para os problemas de forma quase acéfala, não procurou diferenciar os vários locais do país, criando fontes de atratividade que permitissem instalar pessoas e atividade económica, não teve cuidado nas infraestruturas para que fossem, de facto, uma mais valia (basta ver, por exemplo, a dificuldade em comunicações móveis e de alta velocidade mal nos afastamos uns km dos grandes centros urbanos), chegando ao ponto de um país com 200km de largura ter diferenças gigantescas entre litoral e interior.
Por exemplo, estive uns dias em Teira, maravilhosa aldeia perto de Rio Maior (a 15 minutos de Óbidos e 20 minutos Peniche) e é um verdadeiro drama comunicar por móvel ou sequer aceder à internet. O mesmo acontece, por exemplo, na maioria das freguesias de Condeixa, a 5 minutos de Coimbra. Esta é a realidade um pouco por todo o país. Pensar o território, orientar políticas que permitam tirar partido das suas potencialidades para atrair pessoas e negócios, é uma das tarefas essenciais deste país. É um crime aquilo que temos feito com os rios de dinheiro que vieram da União Europeia.
2. O que se está a passar na CGD não é nada bom (mais 4,6 mil milhões, que agravarão ainda mais a dívida) e precisa de ser esclarecido com a já prometida Auditoria Forense, a par da CPI em curso no parlamento. A Auditoria Forense é cada vez mais uma necessidade.
Acresce, que era difícil fazer pior com todo o processo de nomeação da administração da CGD: 8 administradores chumbados, 3 executivos mandados estudar e modelo de governação chumbado é absolutamente humilhante. Era um processo que deveria ter decorrido sem falhas, realçando o facto de ser uma administração não partidária, e foi uma enorme trapalhada.
No entanto, o Governo, com o apoio do Presidente da República, resolveu um problema, a capitalização da caixa, que o anterior Governo deixou andar, sem fazer nada, e que poderia ter causado um verdadeiro colapso de dimensão difícil de antecipar. Contra todas as expectativas, António Costa consegue que a capitalização da caixa não seja considerada uma ajuda de estado. Esse foi um objetivo de sempre do PM, para o qual contou com o empenho do PR. Merecem por isso os louros dessa ação bem-sucedida.
Se não tivesse acontecido, o défice deste ano estaria totalmente comprometido, não seria certamente atingido (com todas as consequências políticas, financeiras e de imagem do Estado inerentes – com Portugal a não sair do procedimento de défice excessivo e a ver as condições de financiamento da sua economia a serem muito agravadas), mas também, e principalmente, a CGD estaria sob alçada das novas regras de “bail in”.
Ou seja, os investidores, incluindo os pequenos, teriam perdas significativas e as ondas de choque em todo o sistema financeiro português seriam inimagináveis. Por isso, os bancos portugueses, a banca em geral, já andavam nos radares dos investidores de todo o mundo, com a Bloomberg a dizer: “Europe, we have a problem”.
Pedro Passos Coelho, Maria Luís Albuquerque, Paulo Portas (responsável, lol, pela área económica do anterior Governo), o PSD e o CDS fizeram mea culpa da sua total e irresponsável inação na CGD? Aliás equivalente à total inação no Banif e no Novo Banco, com os prejuízos que estão à vista de todos? Não, fazem populismo, atiram areia para a cara dos portugueses e… mais valia estarem calados.
Neste processo da CGD é importante reforçar a necessidade de uma auditoria forense aos últimos 15-20 anos, a importância da CPI, mas também o papel do PM, e do PR, ao encarar e resolver um problema que poderia ter causado ainda mais prejuízos a Portugal e aos portugueses. Sem esquecer que, com tudo isto, a dívida vai aumentar ainda mais e é imperioso avaliar e responsabilizar, na exata medida da sua responsabilidade, todos aqueles que conduziram a CGD a esta situação.
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