
FOTO DB/JOT’ALVES
Como é ser atleta cego na Figueira da Foz, sem infraestruturas de atletismo?
A minha vida de atleta é muito complicada, porque temos de gostar mesmo daquilo que temos e focarmo-nos em vencer. Não temos infraestruturas adequadas para que possamos treinar mais afincadamente e de forma mais profissional. Quando fui campeão da Europa em atletismo e medalha de bronze na Polónia, o meu treino foi todo na praia: lançamento do peso, salto em comprimento… As corridas eram feitas no passeio. Foi assim que me preparei.
Isso tornou as coisas ainda mais desafiantes?
Sim, porque era um obstáculo grande. Ter essas adversidades de treino, também nos dava mais “pica”.
Em que disciplinas se destacou mais?
Foi no salto em comprimento, com 4,20 metros. Se calhar, ainda é o recorde nacional, porque há poucos cegos a fazer salto em comprimento. Depois, fui várias vezes campeão nacional no lançamento do peso e natação. Na Polónia, foi espetacular, ao ficar com a medalha de bronze no campeonato da Europa de pentátulo.
Sente que os atletas com deficiência são filhos de um Deus menor do desporto nacional?
Sim. O atleta deficiente ainda está muito abaixo de um atleta dito normal. E mesmo que consigam os feitos que os atletas ditos normais conseguem, nunca têm a mesma divulgação. É aí que peca a comunicação social. Temos trazido bastantes medalhas e esquecem-se depressa dos deficientes.
Não há comendas para os atletas com deficiência?
Nunca as “vi”. Quando conquistamos medalhas no estrangeiro, temos direito a um prémio em dinheiro da Secretaria de Estado do Desporto: ainda estou à espera do meu [relativo à medalha de bronze conquistada na Polónia]. Como eu, há muitos outros atletas deficientes que, se calhar, ainda não receberam esse prémio.
Sente a falta de semáforos com sinais sonoros na cidade?
Não temos, mas fazem muita falta. Há [muitas] barreiras arquitetónicas na Figueira da Foz.
Esta entrevista pode ser ouvida na íntegra na Foz do Mondego Rádio (99.1FM) e vista na Figueira TV.