Os campeões europeus de futebol são portugueses. Eu não sou campeão porque não joguei nem faço parte da equipa técnica… Mas eles sim! Eles são campeões.
E, independentemente das análises sociológicas, antropológicas, psicológicas que se possam fazer deste fenómeno de massas, o facto é que não deixa de ser motivo de satisfação. Eu fiquei feliz! Uma satisfação temporária, é certo. Superficial. Mas é um motivo de regozijo.
Exagerado, talvez. Catapultado por interesses vários… Contudo, na medida certa, não deixa de ser salutar o sentimento de felicidade que os campeões europeus de futebol trouxeram aos seus apoiantes (nacionais, cidadãos na diáspora e estrangeiros).
Curiosamente, a conquista deste título no futebol fez com que outras modalidades desportivas, onde os atletas nacionais têm vindo a liderar há já alguns anos, alcançassem (alguma) notoriedade mediática. Atletismo, hóquei em patins, desportos náuticos, desporto adaptado, são algumas das modalidades em que os atletas portugueses têm vindo a alcançar importantes títulos. Mas não é só no desporto.
Na ciência, nas artes e na cultura existem portugueses de referência mundial. Há também projetos empresariais – entre as nossas micro, pequenas e médias empresas (MPME) – onde vários setores de atividade económica têm vindo a merecer destaque internacional.
Curiosamente, é nas lideranças de topo – públicas e privadas – particularmente, mas não só, no setor financeiro e em algumas instituições de decisão, que Portugal tem estado muito longe de conseguir alcançar os resultados positivos que outras áreas de atividade (desportivas, científicas, artísticas, culturais, empresariais de base) têm vindo a alcançar. Uma análise superficial acerca da nossa história recente permite-nos constatar este facto: temos um problema estrutural nos setores económico, financeiro, institucional.
Julgo que não se tratará de incompetência ou inexistência de quadros preparados. Não é um problema de produtividade nem de rentabilidade das classes produtivas (e os estudos internacionais comprovam-no: os portugueses trabalham muito, são criativos, dedicados, apaixonados… mal pagos…).
O que distingue, então, o desporto, as artes, as ciências, as nossas MPME (as atividades de sucesso), das nossas cúpulas decisórias dos setores económico, financeiro e institucionais (as atividades de fracasso)? Será, eventualmente, muito mais complexo, mas há indicadores concretos que permitem algumas conclusões.
As principais, entre outras, quer seja no desporto, nas artes, na cultura ou nas MPME: a realização pessoal através da superação de si próprio, o mérito individual e/ou coletivo (que não dá para “enganar” e não permite influências externas), o esforço e a dedicação para conquistar objetivos e a orientação concreta da ação operativa para os resultados.
Ao nível desportivo, a modalidade que mais tem sofrido com influências perniciosas tem sido, precisamente, o futebol. E há uma razão elementar para tal… Há, diria, um denominador comum entre as “atividades de sucesso” e “as atividades de fracasso”. Todavia, em posições de ordem distintas: a posteriori (numas) e a priori (noutras). É o dinheiro, o vil metal!
Nas primeiras, o dinheiro é a (eventual) consequência de uma motivação e de um interesse pessoal (individual ou coletivo) mais profundos e íntimos – motivações e interesses de realização humana, espiritual (até) – a posteriori. Nas outras, onde apresentamos lacunas e fragilidades, o dinheiro parece ser um fim em si mesmo – a priori. E até a saída de Ronaldo e a luva branca de Éder são as perfeitas metáforas de tudo isto (elaborações imagéticas, simbólicas, de umas e de outras).
Desta vez, foram portugueses livres que ganharam.