A banca é vital para haver crescimento económico, mas o negócio bancário não é diverso doutros, em que as boas empresas resistem às crises e sobrevivem, e as más ou mudam de vida ou vão à falência.
Em mercado, bancos bem geridos remuneram os depósitos captados e dão crédito a troco de juros e garantias, enquanto bancos mal geridos podem ter excesso de liquidez por contração do crédito concedido, e défices de capital por falta de acionistas e obrigacionistas.
E se há bancos que abrem telejornais por delapidarem em negócios duvidosos as poupanças de quem neles confia, é por a intermediação bancária comportar riscos que cabe aos banqueiros sopesar, pois ganham rios de dinheiro para assegurar uma gestão cuidada e prudente dos seus bancos!
Todos sabemos que quando a economia dum país abranda sofrem povo, empresas e “bons” bancos, e que os “maus” bancos só perduram por haver governos que utilizam dinheiros públicos para suportar gestores bancários ineptos e ineficazes, sejam eles públicos ou privados.
Já um “banco mau”, como o que o governo quer agora criar, servirá para limpar o balanço de bancos (do público, pois os privados dizem não precisar!) de ativos tóxicos provindos de erros de gestão, sendo-nos apresentado como panaceia para debelar problemas estruturais da CGD, que poderá claudicar pelo incumprimento de muitos devedores a quem concedeu crédito, se não encontrar negócios seguros e rentáveis onde coloque a liquidez que por certo terá, embora se diga que precisará de 4 mil milhões de euros de capital… Estes são o drama e o dilema da CGD, mas um “banco mau” custará muito dinheiro público sem garantir o sucesso da economia pátria.
Se cabe ao banco público (a Caixa, com certeza!) apoiar a economia, compete ao Estado, como acionista único, definir as regras para a CGD financiar empresas credíveis, sejam elas exportadoras, produzam para o mercado interno ou substituam importações, e para atrair poupanças, de modo a robustecer a economia e desenvolver o país.
Não faz qualquer sentido um banco público não remunerar positivamente os capitais depositados, não financiar a custo aceitável o esforço de renovação e de inovação empresarial, e não ajudar à recapitalização de empresas viáveis e com ideias de futuro! E se a administração da Caixa só deve dar crédito a quem der garantias, o governo não deve imiscuir-se na gestão corrente do nosso banco público!
Bancos mal geridos são corresponsáveis pelos sacrifícios que o governo nos cobra para, pelos riscos sistémicos, evitar (ou adiar?) falências bancárias, mas cabe ao governo impor que haja lisura na banca. Ou será que como tudo o que é muito grande impõe leis, a máxima “too big to fail, too big to jail” seja seguida por todos, da esquerda e extrema-esquerda ao centro e direita? Esta não deve (nem pode) ser “a” máxima de quem atua como se fossem os “donos” deste país…
A propósito de remunerar capitais e custear dívidas, cotejemos o financiamento da dívida pública nacional com a de países onde os governos preferem que sejam os seus povos a suportar as economias, para gerar riqueza e prevenir o futuro. O nosso governo não privilegia a poupança popular – que é força motriz duma economia sustentável – como o provam a última campanha de Obrigações do Tesouro, que pelo longo período de imobilização e reduzida liquidez só atraiu 37.000 investidores, e os Certificados de Aforro, cujas taxas de juro e prémios atuais nem cobrem as baixas taxas de inflação esperadas!
Até parece que, para não beliscar interesses da banca, o governo prefere financiar-se no exterior, pagando taxas de juro muito superiores às taxas de crescimento do PIB, em vez de dar primazia à captação de empréstimos do povo. De modo simples e redutor, há “bons” e “maus” governos, mas como cada povo tem o governo que quer, meditemos no que tem ocorrido, para podermos vir a ter um dia o bom governo merecido!