Opinião – Jardim da Sereia. Mensagem para Coimbra!

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Hélder Rodrigues

Hélder Rodrigues

1. Percorrer, com vagar, este lugar magnífico.
Entro no Jardim da Sereia, vindo da Casa da Cultura. Quero percorrer, com vagar, este lugar magnífico, outrora local de recolhimento e meditação dos frades de Santa Cruz. Actualmente um dos grandes espaços verdes no coração desta cidade maravilhosa que escolhemos para viver!

À minha frente um extenso caminho de terra batida, que o atravessa horizontalmente. É um caminho agradável, refrescante, com bancos de jardim que convidam a parar, a namorar, a ler um bom livro, a observar a multiplicidade de arvores frondosas que o ladeiam (azáleas, cedros, loureiros), a ouvir a passarada irrequieta no seu chilrear constante (melros, toutinegras, chapins), num hino constante à natureza envolvente.

Se estes pássaros falassem dir-me-iam que são de Coimbra! Uns nasceram aqui, outros vieram de terras distantes em voos prolongados, mas aqui chegados foi aqui que decidiram ficar, a magia desta cidade já os conquistou e envolveu a todos!

Os jovens que passam por mim; o João, a Sónia, a Catarina e o Manuel João vão alegres. Terminada a Queima, vem o trabalho. Olham de soslaio, feito angustia, para os apontamentos de estudo que trouxeram e os aguardam. Oh, como eu os compreendo!

2. Uma porta do tempo em que éramos todos da Académica!
Paro num primeiro largo, onde existe uma pequena porta do lado direito, ainda com o buraco da bilheteira, que dava para a Bancada Central do Santa Cruz, nos Anos 40, no tempo em que o futebol era uma festa, distracção para o espírito e prazer para os olhos!

Quantas multidões de estudantes e adeptos da Briosa aqui fizeram fila para entrar e assistir a duelos renhidos, emocionantes entre a sua Académica, do Capela e do Bentes, contra o Sporting do Azevedo, o Porto do Barrigana, o Benfica do Espírito Santo?

Esta porta, meia abandonada, cheia de grafitis de má qualidade, deveria ser mantida, pintada, restaurada e com uma pequena placa faria a evocação “Homenagem ao tempo em que éramos todos da Académica”!

3. Mensagem para Coimbra!
Abro ao acaso o livro “As Cidades Invisíveis” e procuro uma mensagem que esclareça o meu pensamento junto dos leitores destas Crónicas, para quem escrevo;

“Uma cidade é feita das relações entre as medidas do seu espaço e os acontecimentos do seu passado. Coimbra contém o seu passado como nós temos as linhas nossa da mão. Inscritas nas ruas da Alta e da Baixa, nas escadas do Quebra-Costas e da Sé Velha, nas canções do Bettencourt e do Zeca, no Choupal, no Botânico e na Sereia donde vos escrevo. Nas Queimas, nas Latadas e nas Fogueiras de S. João. Nos filmes de amor no Avenida e de cowboys no Sousa Bastos. Nos jogos do União na Arregaça, do Sport na Palmeira ou da Académica no Santa Cruz, que aqui refiro!

Esta Coimbra nunca se apagará da nossa mente, mas é obrigada a renovar-se constantemente, sem perder os seus valores, que fazendo parte da sua essência, constituem o seu ADN, a sua razão diferenciadora.

A Coimbra do passado já não existe. Só atingirá a sua plenitude através duma renovação constante, rumo à modernidade e ao futuro. Se assim não for, será a estagnação e a morte! Nessa altura nem existirá a Coimbra do passado, nem a do presente, muito menos a do futuro. Porque parámos no tempo!” .

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