Opinião – No interior (das nossas cabeças)

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Hélder Bruno Martins

Hélder Bruno Martins

É confrangedor! Uma área territorial como a que tem Portugal continental, não nos devia permitir, sequer, falarmos em “interioridade”…

Interior?… Não: áreas desertificadas e a necessidade de promover a coesão territorial nacional. As causas são múltiplas e algumas muito difíceis de contrariar (como o envelhecimento e a redução da população, o paradigma económico global e as tendências sociais atuais).

A História do país instituiu subliminarmente a cultura que o desenvolvimento estaria do lado do mar (no litoral, porque até o mar enquanto recurso vendemos e esquecemos…). Surgiram pólos urbanos no litoral e desde então temos aquiescido esta realidade sem questionar.

Depois, de Espanha “nem bom vento nem bom casamento” (olhamos para o lado de lá e temos Zamora, Valladolid, Salamanca, Caceres, Merida, Badajoz, Madrid… cidades do interior de Espanha, claro!).

Por outro lado, a dicotomia “cidade” e “campo” possui dogmas e tabus que, hoje, são muito questionáveis: qualidade de vida, estatuto (social, cultural e económico), cosmopolitismo… eram atributos das cidades.

De facto, durante anos as classes produtivas do campo procuraram nas cidades melhores condições de vida. A ideia bafienta de “província” é, ela sim, provinciana.

O país é pequeno, mas isso não significa que tenhamos de o ver com vistas curtas. Uma vez mais, temos a Cultura (ou a sua ausência) a moldar os olhares, as perspectivas e as decisões (ou a falta delas).

De onde estou, na Lousã, tenho o aeroporto Sá Carneiro a 90 minutos e o da Portela a 150 minutos. E se for pela internet nem saio de casa e faço compras em Nova Iorque… “Interior”?… não será o conceito adequado…

Estou, portanto, muito esperançado com a Unidade de Missão para a Valorização do Interior, criada pelo Governo. Uma verdadeira missão que terá que contrariar a tendência global de concentração populacional nos (grandes) centros urbanos.

É crucial facilitar e apoiar a criação de emprego nas regiões deprimidas; repensar os benefícios fiscais às empresas e aos empreendedores que aí se fixem; reduzir os custos das deslocações (portagens e combustíveis); apoiar e auxiliar os agregados familiares que aí queiram residir; definir os tecidos produtivos destas regiões em articulação com as vocações dos seus contextos geo-humanos; melhorar a rede nacional de transportes e de serviços públicos, principalmente os de saúde, educação e cultura nas áreas identificadas.

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