Opinião – No 5.º centenário da “Utopia” de Tomás More

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Manuel Augusto Rodrigues

Manuel Augusto Rodrigues

A “Utopia” de More editada em Lovaina em 1516 consagrou para sempre o nome do famoso jurista e chanceler do Reino inglês, que viveu entre 1478 e 1535. Por se ter oposto ao divórcio de Henrique VII devido às suas convicções católicas, viria a ser executado por ordem daquele monarca.

Era a semente do cisma anglicano. O Papa Pio XI canonizou Tomás More e São João Paulo II declarou-o patrono dos homens da política.

Recordar More leva-nos a evocar personalidades e factos marcantes que determinaram a história dos tempos modernos: Gutenberg imprimiu a primeira Bíblia (1455), Erasmo escreveu, entre tantas obras, o “Elogio da Loucura” (1511) e o “Novum Instrumentum” em grego (1516) e os judeus e os muçulmanos foram expulsos da Península Ibérica. Colombo descobriu a América (1492), Vasco da Gama o caminho marítimo para a Índia (1498) e Álvares Cabral o Brasil (1500). Maquiavel acabou “O Príncipe” (1513 e publicado em 1527), Lutero afixou as suas célebres teses (1517) e Calvino editou a sua “Institution de la religion chrétienne, em latim (1536), em francês (1541). Inácio de Loiola fundou a Companhia de Jesus (1537), Francisco Xavier chegou à Índia (1542), Paulo III abriu o Concílio de Trento (1545-1563) e foi criada a Inquisição romana (1545). E, finalmente, para não alongar a lista de efemérides, assinale-se que este ano se celebram os 400 anos da morte de Miguel de Cervantes.

A palavra utopia é um neologismo grego criado por More para designar a vida da sociedade ideal numa ilha desconhecida. Na Renascença surgiram várias utopias que traduzem o divórcio entre as aspirações da época e as realidades do quotidiano.

Já Platão na “República” falara de uma sociedade perfeita. Além de More, também Campanella e Bacon escreveram sobre este assunto. Havia uma visão pessimista do presente que se contrapunha ao optimismo do futuro na linha da dialéctica se abatera nos meios humanísticos.

More aborda com cores bastantes sombrias na primeira parte da sua Utopia a Inglaterra de então e na segunda descreve uma ilha de paz e felicidade porque todas as dificuldades políticas, económicas e religiosas haviam sido abolidas. Muitas das teses de More foram retomadas por muitos pensadores desde Rabelais a Montesquieu e a Rosseau. O optimismo é a nota predominante nas obras escritas por esses autores.

Com a “Utopia” do humanista inglês muitos relacionaram o Paraíso ou Eden dos primórdios da humanidade e os Novos Céus e a Nova Terra do Apocalipse. Além evidentemente da abordagem literária há que é possível associar à obra moreana e que têm sido exploradas por diversos pensadores das áreas da filosofia, da história da Igreja, da dogmática e da ética, salvaguardadas evidentemente as diferenças e ópticas de análise.

Numa fase da história marcada por um sem número de dúvidas e incertezas, entre a secularização e as interrogações de ordem religiosa, justifica-se plenamente a análise de questões relacionadas com o presente e com o futuro.

A teologia da esperança marcou muitos dos estudos surgidos à volta da época conciliar e o profetismo entrou pela primeira vez na teologia como muito bem explicita P. Lathuillère, “Vatican II, fruit et ferment de prophétisme”.

Partindo da “Utopia” de Tomás More é possível rasgar outros caminhos que se enquadram na atualidade, hoje tornada globalizada, e cujos sinais é imperioso atender.

Mormente no Ano Jubilar da Misericórdia que apela a uma grande abertura e compreensão de tantas realidades que aguardam adequadas respostas a que não são alheios a utopia, a esperança e o profetismo.

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