Opinião – Hipocrisia à solta

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Francisco Queirós

Francisco Queirós

Há momentos assim! Em que a hipocrisia parece ter-se banalizado e dominar o mundo.

A “crise dos refugiados”, ou melhor, milhões de refugiados em grave crise, lutando desesperadamente pela sobrevivência contra o frio, a fome, as doenças e o risco de morte em naufrágios, tem posto a nu a hipocrisia da Europa.

Circula nas redes sociais a fotografia de uma ministra nórdica vestida com um fato semelhante ao dos astronautas, uma espécie de escafandro, a boiar nas águas do Mediterrâneo para, segundo leio, chamar a atenção para o drama dos refugiados e vivenciar a experiência dos pobres infelizes. A ser real, a hipocrisia não tem limites. A ser verdade, a ministra de um país que expulsa refugiados convocou a comunicação social para ser fotografada a banhos numa cápsula de vergonha. Quero acreditar que a notícia é falsa, contudo ela representa bem a hipocrisia.

Hipocrisia, falta de vergonha, manifestação de poder e de ódio foi o que o mundo inteiro assistiu ao acompanhar a votação do Congresso Brasileiro relativamente ao processo de afastamento da Presidente da República. Nunca se invocou tanto o nome de Deus em vão. Tão crentes e tão pouco respeito pelo Segundo Mandamento: “Não pronunciarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão” (Êxodo 20,7 ). “Pelos meus filhos. Pela minha mãe de 90 anos. Contra o comunismo! Pela A14 (que bem precisa!).

Pelo gato Tareco. Pelo cão Bobi. Pelo Brasil, pela Igreja daqui e dalém e em nome de Deus” votaram Sim! O espectáculo degradante incluiu a declaração de uma deputada que invocou o exemplo do marido, prefeito da sua cidade, mas que seria detido poucas horas depois, na manhã seguinte, pela Polícia Federal precisamente pelo crime de corrupção, pelo desvio de dinheiros públicos para clínicas de que é proprietário.

Ao espectáculo não faltou a declaração de voto de um outro “Trump” local, deputado de extrema-direita que já representou seis partidos diferentes, que espumando ódio conseguiu invocar um dos maiores assassinos e torturadores da história da ditadura militar, o Coronel Carlos Brilhante Ustra. Um dos torturadores da própria Presidente Dilma Rousseff!

Como se já não fosse profundamente ultrajante para a democracia e para o povo brasileiro o elogio do carrasco, o deputado acrescentou na sua dedicatória, porventura ainda e sempre “in nomine Dei”, o apodo de “o pavor de Dilma”!

Um triste espectáculo em que vários “coronéis” indiciados nos mais diversos crimes, incluindo a escravatura, se fantasiaram de paladinos do combate à corrupção! Pois, é difícil de entender!

Hipocrisia à solta, aos molhos, no Brasil, pelas mãos dos senhores de engenhos e fazendas. Hipocrisia em barda nos senhores da Europa e do mundo!

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