Opinião – Abril não é utopia

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Gil Patrão

Gil Patrão

Portugal – que sempre foi pobre em termos materiais – exasperava quem, antes do 25 de Abril, constatava o atraso em que a maior parte do povo vivia e sabia que o mundo tinha outra dimensão.

Nessa época, o povo emigrava para escapar à miséria e à ditadura que o escravizava, já que pouco mais podia fazer do que sofrer em silêncio, enquanto fugia para ter um futuro digno e melhorar de vida.

Hoje, embora haja liberdade, continua a haver muitos que emigram por não encontrarem trabalho que os afaste da miséria, e todos continuamos sujeitos a quem se mostra incapaz de governar um país que, de tão endividado, até parece ser o inferno na terra…

Somos um povo de brandos costumes, pobre e iliterato que vai definhando à sombra dum passado glorioso – como se o fausto de tempos idos possa escamotear a dura realidade em que se vive… – e que, se então sentia na pele a forma como a ditadura maltratava quem tinha a ousadia de exprimir opinião dissonante do poder vigente, era tão sereno que não se revoltou, antes se resignou ao duro fardo que tanto lhe curvou a cerviz que o moldou…, quiçá para todo o sempre.

Na Revolução de Abril, o povo acordou surpreso por ver o poder capitular na rua, sem resistir a alguns jovens militares que quase nem um tiro deram.

O povo compreendeu então que era apatia o que o tolhia, e não o medo do poder decadente, e dando as mãos aos soldados, nos canos de suas espingardas colocou singelos cravos…

O tempo foi passando, o país foi-se desenvolvendo lentamente e a democracia instalou-se, mas a revolução emudeceu, pelo que o povo permanece cativo de velhos costumes e submetido a regimes ditos democráticos, mas que não respeitam quem carece de emprego e aspira a melhor educação, saúde, justiça, cultura, e a menor pobreza!

Quarenta e dois anos depois de Abril, e nesta Europa que dizem nossa, mas de que estamos tão distantes quanto a desenvolvimento humano, permanecemos dependentes de quem detém o poder.

O poder que devia servir o povo serve para uns poucos crescerem à custa de todos, por desastrosas políticas gizadas em quatro décadas, por muito que o país de agora não se compare ao de outrora!

Mas o povo nem pune quem deturpa a verdade nem exige mudanças reais de política! Vota, mas sofre de iliteracia política… Sofre, sem impor aos governos mais rigor e muito maior competência…

Paga cada vez mais impostos sem questionar porque se delapidam os bens, fruto da iliteracia económica que tem… O povo piora de vida, ano após ano, sem dizer “Basta!” a quem tão mal nos governa… Afinal, o nosso povo continua a ser o mais analfabeto da Europa, tanto tempo após o 25 de Abril, sem que os brandos costumes sequer estremeçam…

Celebrar Abril obriga a mudar de rumo, para melhorar a qualidade de vida.

O 25 de Abril trouxe liberdade, mas o povo ainda não fez a revolução que afaste tanta corrupção que grassa por aí e a imensa vulgaridade de muitos governos que temos tido. Abril, como ideal, é Portugal vir a ser um país em que haja trabalho para quem dele careça.

Mas só lutando por Abril haverá melhor futuro, pois vida digna não é milagre, é conquista!

Exige coragem, perseverança e empenho de cada um, em prol do povo que todos somos.

Abril não é pura utopia, antes é razão de esperança!

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