Opinião – Um carrossel… chamado PS

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Bruno Paixão

Bruno Paixão

Desconfiarei sempre daqueles que se arrogam de ser os guardiões de uma suposta reserva moral dos partidos políticos e da sociedade.

Daqueles a quem, quando as coisas não correm a seu gosto, evocam os princípios de abril com a mesma facilidade com que em tantas circunstâncias os emudecem.

Daqueles que olham para a democracia como uma passadeira vermelha que lhes dá acesso vip ao espaço mediático, a reformas douradas, a subvenções vitalícias e a uma espécie de imunidade ociosa que não está acessível aos restantes cidadãos.

O caso das fichas falsas do PS em Coimbra tem servido para lançar muita lama na ventoinha da verdade.

Como quase sempre, pouco se constrói a partir da constatação de erros, e a oportunidade de os corrigir tem sucumbido a um pérfido aproveitamento para dinamitar lutas estéreis no acesso ao poder – essa iguaria que parece ser tão irresistível!

Embora alguns dirigentes nacionais tenham vindo dar provas de desvelo na resolução desta questão, suspendendo eleições para revalidar os cadernos eleitorais – de resto, como o próprio presidente da federação de Coimbra, Pedro Coimbra, solicitou e tem sido a principal voz na defesa dessa transparência –, há quem se empenhe em lançar confusão num caso relativamente sensível, que atinge a confiança no sistema partidário.

Ficou a faltar na deliberação do PS a legitimação de militantes em todo o País. Não acredito que seja apenas em Coimbra que o sistema aponta erros em cerca de 2% dos membros constantes dos cadernos eleitorais…

O cúmulo do tumulto surge quando o ex-eurodeputado socialista António Campos, pai do ex-secretário de Estado das Obras Públicas de José Sócrates, Paulo Campos, surge no jornal i, na sua edição de 01 de março, sublinhando publicamente as fragilidades de uma federação onde cultiva a adversidade com os órgãos eleitos. Atirou pedras para o ar. Terá cuidado que há nesta aldeia de virgens, puras e castas, tantos e tantos telhados de vidro? Falou de guerra e de compra de votos.

Não faltou quem viesse depois recordar o dinheiro a rodos que entrou no Largo do Rato em 2010 para pagar quotas de uma só penada, tendo possibilitado um desfecho eleitoral em Coimbra favorável ao candidato apoiado por Campos, muito contestado nos tribunais, com investigações, apreensão de documentos e vergonha pública. O jornal i colocou a foto de Salazar ao lado da chamada de capa para a entrevista de Campos. Isso era evitado…

A natureza deu ao homem o poder de, através do discurso, esconder o seu verdadeiro pensamento. Por isso esteve bem Pedro Coimbra ao insurgir-se e a desafiar Campos – pai e filho – a disputarem com ele eleições e a esclarecerem se é o acesso ao poder de uma das mais prestigiadas federações socialistas do País aquilo que os tem movido.

Mais: foi Pedro Coimbra que solicitou à direção nacional a abertura do processo para que aparecessem outros candidatos, caso contrário isso não seria possível – um exemplo democrático a registar… Pelo meu lado, gostaria de ver acontecer a disputa. Se é de uma luta pelo poder que se trata, então isto só deve ser resolvido pela única via possível: a democrática. Com votos limpos e com escrutínio máximo. Até porque a paz não pode ser apenas o intervalo da guerra. Ela deve ser cultivada em todas as esferas da sociedade e todos somos poucos para a sua construção.

Voltando ao princípio, desconfiarei sempre daqueles que acham que é (apenas) consigo que o mundo ficará acertado, que só no seu pulso o relógio baterá certo e que a moral é um sapato que cabe unicamente no seu pé. O discurso que agrada a todos pode ser uma alavanca mas nunca será o combustível.

Campos afirmou que estão já garantidas condições de transparência, democracia e liberdade para as eleições. Agora, todos esperam que Campos não tema ir a votos. É que uma vez entrando no carrossel, só se pode sair quando ele para.

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