Opinião – Ser do Benfica é um sentimento

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Hernâni Caniço

Hernâni Caniço

Foi aqui colado o Benfica ao regime fascista de Salazar e à viciação de campeonatos, afirmando-se ainda que “não há benfiquista que não continue a alimentar o velho sonho fascista do clube único,…”. Ora, sendo eu anti-fascista e benfiquista, considero-me ofendido.

Entendo que o aproveitamento que o regime fascista tentou fazer do Benfica por ser um factor mobilizador de multidões, não se pode confundir com o sentimento dos benfiquistas. Com emoção sempre, alegria ou tristeza, bem-estar ou sofrimento por circunstâncias e resultados, sem prejuízo das opções clubísticas diferentes de familiares, amigos ou cidadãos.

Sugerir a viciação “automática” de campeonatos, em função do número de adeptos, é ignorar a capacidade, profissionalismo e pundonor dos atletas e o sortilégio do futebol que não é ciência exacta. E digo-o no dia seguinte à derrota do Benfica perante o rival FC Porto, aceite com desportivismo e elegância, sem ressabiamentos.

Durante o regime fascista, o meu pai, benfiquista, já falecido, foi eleito para presidir à filial Sport Fazendas de Almeirim e Benfica, acto do qual foi impedido pela polícia política, porque tinha sido apoiante do general Humberto Delgado.

Em 25 de Abril, eu era activista dos movimentos associativos académicos (Núcleos Sindicais e Comissão Pró-Reabertura da AAC) e da Oposição Democrática (participando em organização e manifestações pela liberdade e democracia e exigindo justiça social), estando então com pena suspensa, após prisão política por ter protestado contra a guerra colonial.

E já ia ao Estádio da Luz, vibrava com as vitórias do “glorioso” (porque glória pode significar mérito), congratulava-me pelo sucesso do Benfica na Europa, entristecia-me com as lágrimas de Eusébio pelo Benfica ou selecção de Portugal.

Não tenho complexos de provincianismo nem subserviência, porque de Coimbra chegamos a todo o mundo, com património mundial e acção solidária. Não reconheço qualquer capital do império dominadora, porque lutei contra esse império.

E abraço os milhões de portugueses em Portugal e no Mundo, que têm por referência o Benfica, que minimiza a sua vida dura, que demonstram que não há longe nem distância, que fortalecem o patriotismo não patrioteiro.

Era, sou e continuarei a ser anti-fascista e benfiquista, e não confundo actos, emoções e sentimentos com diatribes, perversões e ditadura. Também não tenho sonhos fascistas e continuo a promover a solidariedade e a igualdade.

Já agora, onde estava o cronista anti-benfiquista no 25 de Abril?

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