Opinião – Dedicação

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Aires Antunes Diniz

Aires Antunes Diniz

Entre os portugueses parece ser um sentimento incomum a dedicação à causa pública, mas isso é algo que se sente como desajustado quando há governantes que empurram os mais jovens para fora da terra onde nasceram, chamando-lhe piegas se o recusassem. Mas, em “1781 – o ano em que estudantes da América portuguesa, em Coimbra, juraram dedicação à causa da soberania da colónia”.1

E essa dedicação devia ser também de todos os jovens que sentem este país como seu, e que tudo devem fazer para afirmarem a sua soberania, a condição necessária para que exista uma política efetiva de desenvolvimento.

Por outro lado, todos sentimos desertas as nossas aldeias, vilas e cidades do interior e também os centros históricos das grandes cidades. E, por isso, não compreendemos nem aceitamos as lógicas governativas que o impuseram, como se isso fosse a sua obrigação e estratégia.

Mas, foi assim que os campos ficaram desertos, as fábricas fecharam, muitos estabelecimentos comerciais encerraram e as cidades, vilas e aldeias se degradaram de forma inaceitável.

Não admira que o sistema financeiro nacional se tenha degradado também, obrigando o Estado a ajoelhar-se perante o FMI/BCE/CE em 2008 após a importação de mais buracos financeiros, como resultado dos desastres do Lehman Brothers e outros que eram bancos globais.

Mas, era visível que o mal vinha de uma estratégia que apostava em comportamentos que desde sempre se tinham mostrado incapazes de controlar as fraudes e irracionalidades do sistema financeiro. Ingenuamente, muitos acreditaram que a troika ia ser capaz de controlar estes procedimentos suicidas, mas os casos BES e BANIF mostraram que não.

Como solução governamental foi apenas dada a de fazer falir tudo o que fosse necessário para salvar os bancos por causa do propalado risco sistémico. Mas, uma política deliberada de submissão aos interesses do capital financeiro global levou à aceitação de um pacto de empobrecimento do país que, por essa razão, levou à descapitalização geral dos portugueses através de uma maior carga fiscal e de cortes salariais e de pensões em nome da salvação da economia. Diziam.

Na realidade era da salvação da finança que se tratava como fomos vendo. Era esta mal e corruptamente gerida. Vimos. E apesar disso quando acontecia a insolvência de algum banco apelava-se desde logo ao auxílio do Estado. Contudo, esqueciam-se sempre os governantes de que era mudar de atitudes de gestão de riscos e de controlo comportamentos anómalos. E que, quando eram claramente corruptos, havia que acionar os mecanismos legais de reforço da legalidade.

Em tudo neste processo havia ainda sinais claros de que havia que mudar a postura dos portugueses. Via-se que deviam afirmar a soberania nacional, deixando de obedecer a poderes que nos são estranhos, para afirmar a independência nacional perante as teias com que a finança global nos imobiliza, nos faz retroceder e nos empobrece.

1 Lília M. Schwarcz e Heloísa M. Starling – Brasil: Uma Biografia, Temas e Debates –Círculo de Leitores, Lisboa, 2015, p. 145.

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