Francisco Queirós

O clima já não é o mesmo. O tempo muda. Quer por razões naturais, quer pela intervenção nociva do Homem. Avisam os especialistas que as zonas temperadas do planeta estarão cada vez mais sujeitas a fenómenos meteorológicos extremos, secas prolongadas ou tempestades.
No passado domingo, a cidade de Albufeira viveu um fenómeno climatérico extremo. Habitualmente, tais fenómenos tornam-se mais gravosos quando à imensa precipitação verificada num curto período de tempo se associam questões de deficiente ordenamento do território. Há cidades que cresceram imenso e por vezes desordenadamente, havendo cada vez mais superfícies impermeabilizadas. Não importa aqui discorrer sobre as cheias de Albufeira, fenómeno com história.
Doutro fenómeno nos ocupamos. Estava um país inteiro solidário com o padecimento de lojistas e moradores algarvios e eis que um membro do governo, empossado na antevéspera, responsável pela pasta da administração interna, se desloca aos locais atingidos pelas águas em fúria. Ocorrência não só natural, como obrigatória. Face a acidentes ou catástrofes naturais compete ao governo avaliar com urgência a situação e intervir para no mais curto espaço de tempo se repor a normalidade da vida dos cidadãos. Mas que foi o ministro do interior fazer a Albufeira? Seguramente, dar lições aos algarvios e a todos os portugueses. O ministro invocou que Deus nem sempre é amigo e que de vez em quando nos dá lições de vida. E já que em jornada pedagógica se transformara a visita ministerial, o ministro foi ainda além do catecismo e lembrou aos incautos pecadores algarvios, chorosos pela perda de bens, que “quem não tem seguro deve aprender em primeiro lugar que é bom reservar sempre um bocadinho para no futuro ter seguro”. Para isso servem os pés-de-meia, asseverou o ministro que entretanto recordou a sua origem pobre e transmontana. Uma lição de vida e para a vida aos portugueses!
O governo temporário não faltou às vítimas da intempérie. Em missão evangélica, em visita pastoral, o ministro do governo de Portugal confortou os albufeirenses. Em jornada pedagógica, transmitiu a algarvios e aos demais portugueses inolvidáveis lições. “Usem os vossos pés-de-meia com juízo e de modo seguro!”
Pouco importa que em 2015, depois de quatro anos e meio de governo de Passos Coelho e Paulo Portas, haja cada vez menos portugueses com pés-de-meia! No meio das desgraças, os governantes de Portugal respondem com paternalismo! Não haveria Deus, na sua infinita sabedoria, de estar desalentado com este povo perdulário, insensato e sobretudo desgovernado…