Opinião – O povo adora o circo

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Santana-Maia Leonardo

Santana-Maia Leonardo

 

Os políticos portugueses ficam muito ofendidos quando lhe chamam palhaços. Mas é preciso gostar muito de circo para manter em cena, em nome do superior interesse nacional, durante quase dois meses, a triste palhaçada a que estamos a assistir. Além disso, só uma direita a lembrar a de outros tempos (a tal direita pouco inteligente) é que se ufanava com os argumentos de Cavaco Silva para não dar posse a um Governo de “Esquerda”. É que esses argumentos (mais depressa do que pensam) vão assentar como uma luva num Presidente de “Esquerda” para interferir, derrubar ou recusar a posse de um governo de “Direita”. Os maiores inimigos da Liberdade sempre foram aqueles que actuam como se fossem a encarnação do superior interesse nacional.
Num país pouco dado a palhaçadas, o Presidente, no dia a seguir às eleições, indigitava o presidente do partido mais votado para fazer diligências para formar governo. Caso não conseguisse reunir condições para ver o seu governo aprovado pelo Parlamento, comunicava, de imediato, ao Presidente e este convocava o presidente do segundo partido mais votado para o mesmo efeito. Ou seja, tudo feito de uma forma célere, racional e tranquila.
Acontece que, pelo caminho que se está a seguir, não tarda nada ainda iremos assistir a Presidentes da República a nomear governos de gestão e a mantê-los em funções durante todo o seu mandato. Tudo em nome do superior interesse nacional, bem entendido. E não faltarão constitucionalistas a defender a constitucionalidade da iniciativa. Palhaços!
Não deixa de ser, aliás, caricato que sejam precisamente os comentadores que mais reclamavam por grandes reformas estruturais aqueles que agora se escudam numa tradição de 40 anos para impedir a grande reforma estrutural da nossa democracia: um Governo apoiado pelo BE e pela CDU.
Para já não falar daqueles que comentam os resultados eleitorais como se as eleições legislativas tivessem sido de braço no ar. Ora, as eleições por voto secreto visam precisamente garantir a liberdade de voto, impedindo que se saiba em quem votou cada eleitor. Ou seja, cada um é livre de votar como quer e lhe apetece e pelas razões que muito bem entender, por mais estúpidas que sejam, e até sem ter qualquer razão para o fazer. Daí resulta que o deputado eleito apenas está vinculado à sua consciência, não podendo, mesmo que queira, perguntar a cada um dos seus eleitores o que o levou a votar nele. Mas uma coisa podem ter a certeza: a esmagadora maioria dos eleitores que votaram no CDS, PS, PSD, BE e CDU não votaram, em qualquer destes partidos, nem por serem ou não europeístas ( 90% nem sabe o que isto quer dizer), nem por serem a favor ou contra o euro. A esmagadora maioria votou nestes partidos por uma única razão: porque sim.
O que seria dos nossos políticos e comentadores se o nosso povo não gostasse de circo?

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