Os portugueses têm assistido nos últimos dois meses a sucessivas manobras dilatórias na indigitação do primeiro-ministro. Todas destinadas a impedir um governo naturalmente resultante da correlação de forças ditada pelos números eleitorais, que refletiram as ideias dos eleitores quanto ao que não queriam.
Trata-se de algo que nos faz lembrar os tempos de confrontação violenta que estão na base da nossa democracia, em que se digladiaram liberais e absolutistas, havendo pelo meio alguns momentos como o “Assassinato dos lentes de Coimbra em Condeixa, em 18 de Março, levado a cabo pela Sociedade dos Divodigus ou Divodis, também dito Clube Republicano Escolástico.”
Felizmente esses tempos no nosso país já estão afastados do nosso quotidiano, resumindo-se a violência a algumas cenas de luta política mais acaloradas e, até, entremeadas por palavras exaltadas e até insultos que logo o vento espalha para longe.
Infelizmente, os atores políticos que macaqueiam os absolutismos de sempre, não têm uma postura em que mostrem um patriotismo que acompanhe o dos absolutistas, que, em 1828, apenas queriam manter o “status quo” de uma aristocracia tradicional que necessitava um rei absoluto para o manter.
Agora, perante o embaraço de quem os observa, vemos que os “absolutistas do nosso tempo” teimam em vender bens nacionais, ultrapassando os limites consensuais dos poderes de um governo em gestão que acontece por não ter apoio na Assembleia da República. Reclamam agora a venda rápida do Novo Banco que o Estado “herdou” como resultado da gestão claramente imprudente do BES, que se afirmava sabedor de todos os meandros e até truques da gestão financeira dos haveres dos seus clientes. Era a quem pedia confiança que, vimos, não merecia. Mais, estes “governantes” entregaram esta venda ao vendedor compulsivo da TAP, que perseguiu este objetivo contra todas as regras de negociação de uma forma claramente inábil. Para o explicar um dicionário diz-me “que esses comportamentos compulsivos são mal adaptativos porque, apesar do objetivo que têm de proporcionar algum alívio de tensões emocionais, normalmente não se adaptam ao bem-estar mental pleno, ao conforto físico e à adaptação social”.
Todos ou quase notam o sem sentido de quererem “empatar” quase 1400 milhões de euros no Novo Banco, algo que os banqueiros que nos restam se recusam a fazer, enquanto nos dizem não haver 150 milhões para a TAP funcionar.
Todos vemos por isso que se trata de conversa fiada em que desconfiadamente e de modo natural não acreditamos.
Entretanto, saudavelmente o Povo que partilha mágoas no Facebook vai brincando com os heróis desta ópera bufa, no preciso momento em que devia estar a livrar-se dos dissabores que esta gente lhe causou e persiste em causar.
Só esperamos agora pela risada geral que acompanhará a sua saída de cena.
1 ) In http://maltez.info/respublica/portugalpolitico/acontecimentos/1828.htm, acesso em 21 de novembro de 2015.