Soure vive momento de mudança. A meio do mandato, o presidente da Câmara entende estar concluído o processo de ajustamento financeiro e em aberto um ciclo de “investimento sustentado, inteligente e inclusivo”, assente em três áreas estratégicas: turismo, solidariedade e economia.
Entre a Serra do Sicó e o estuário do Mondego, Soure é dos concelhos do litoral com maiores índices de ruralidade e de longevidade. As razões prendem-se com a proximidade de um centro de excelência, na Saúde, e a grande rede de IPSS, que presta apoio aos idosos.
“Esta realidade traduz um bom e um mau sinal, pois a longevidade gera problemas de sustentabilidade”, refere Mário Jorge Nunes.
No concelho, refira-se, há pelo menos uma IPSS em cada uma das 10 freguesias. Para os seniores, os serviços prestados vão do apoio domiciliário ao centro de dia. No que respeita a lares, contam-se cerca de 500 camas, entre estabelecimentos da ação social e privados.
“As IPSS são os maiores empregadores do concelho, comcerca de seis centenas de postos de trabalho”, adianta.
Em dois anos, a Câmara reestruturou-se, no plano financeiro, e preparou-se para uma estratégia de investimentos substantivamente diferente. Comparação interessante é a da dívida: no dia das eleições autárquicas, “valia” cerca de 8,5 milhões de euros; atualmente, não chega a 5,7 milhões.
Pagar a 30 dias
Entretanto, a Câmara está a pagar, no máximo, a 30 dias e, à data da realização desta entrevista, dispunha de 757 mil euros na conta à ordem, devendo a fornecedores apenas 279 mil euros.
É certo que o ambiente cultural de um concelho como Soure valoriza, sempre, a pequena obra à porta de casa, a valeta, o poste elétrico no quintal, enquanto desvaloriza a intervenção estratégica e mais estrutural. Mas é aqui que o autarca quer deixar legado. “Temos investido muito em estudos, por exemplo, na área da água e saneamento [Soure tem um sistema autónomo, com 13 subsistemas de captação], para chegar a todos os lugares e domicílios de um concelho muito disperso”, adianta.
Alteração simbólica tem a ver com os custos com a iluminação pública – uma fatura que importava, ao município, cerca de 600 mil euros por ano. “Investimos na eficiência energética, substituindo lâmpadas de forma progressiva, e na sensibilização das pessoas, no sentido de controlar consumos no espaço público, em colaboração com a EDP”, refere.
Este programa começou há um ano, na freguesia (pioneira) de Vinha da Rainha, e já se conseguiu uma poupança de cinco mil euros – valor que vai ser transferido, em equipamentos, para a junta de freguesia.
Vinha da Rainha pioneira na eficiência energética
A junta, entretanto, já tomou uma medida – que Mário Jorge Nunes considera “excelente”: substitui-se aos pais e paga, na íntegra, as refeições escolares. Como a câmara paga os manuais escolares, as crianças da freguesia são claramente beneficiadas.
Também o próprio Município aproveitou para fazer o seu ajustamento. Hoje, não tem contratados a termo nem avenças a recibo verde (mantêm-se apenas os contratos dos docentes das AEC).
“Esta opção também alivia, um pouco, a pressão política sobre o Município”, admite.
Depois, houve renegociação de contratos de fornecimento de serviços e otimização da frota automóvel, “Eu, que nado e criado em Soure, sinto hoje que as pessoas voltam a olhar para a câmara como parceiro de confiança com quem se pode negociar ou prestar serviços”, orgulha-se.
Como noutros concelhos, também em Soure subsistem problemas, mas a abertura do nó da autoestrada A1 veio desanuviar as acessibilidades do território.
Falta, agora, completar os acessos ao nó. “Sei que não é fácil, mas estamos a trabalhar, tal como fizemos antes, de forma discreta, junto das entidades gestoras dos fundos”, explica.
O acordo de parceria entre Portugal e a UE, no âmbito do Horizonte 2020, inscreveu um valor, de 200 milhões de euros, destinado a financiar o que se designa por “The last mile”, a última milha, ou seja, o que falta completar. “Nós temos muita esperança de poder recorrer a este conceito, para uma obra que estimamos em cerca de seis milhões de euros”, afirma.
Outra prioridade é intervir na zona industrial. Atualmente, todos os lotes têm dono, mas a verdade é que houve empresas que fecharam e a Câmara pensa ser possível instalar novas firmas. Este é, aliás, o principal argumento da autarquia para reclamar a ligação à A1 e ao IC2.
Por fim, realce para o ordenamento do território. Soure é o único concelho do distrito que ainda não tinha avançado com a revisão do PDM – documento que data de 1994. Neste momento já estão no terreno as equipas técnicas e, até final do ano, o processo estará oficialmente em andamento.
Muralhas de Soure ganham centro interpretativo
O Centro Interpretativo do Espaço Muralhado de Soure é o culminar de um profundo e longo trabalho desenvolvido pelo Município de Soure.
Na década de 1980 foram descobertos vestígios arqueológicos relevantes, na sequência das escavações conduzidas por Artur Corte Real.
Em 2003, uma intervenção de arqueologia preventiva em zona adjacente evidenciou estruturas habitacionais de época moderna, adossados à muralha; uma necrópole medieval e moderna de Nossa Senhora de Finisterra; e novas estruturas defensivas medievais.
Pela primeira vez, ficou clara a fundação cristã deste reduto fortificado e a consecutiva transformação do espaço muralhado ao longo da Idade Média.
Agora, com a construção do Centro Interpretativo e a dotação do Sítio de passadiços, essenciais à visita, a Câmara de Soure, integrada na Rede Urbana dos Castelos e Muralhas do Mondego, possibilita a fruição deste conjunto patrimonial pela população da região e por turistas.
A implementação deste projeto permitiu, também, dar lugar à preservação in situ dos vestígios arqueológicos entretanto identificados.
Em paralelo, passou a ser possível perspetivar uma nova interpretação do espaço público e, ao mesmo tempo, permitir uma visionária ligação entre a periferia e o centro da vila contribuindo, assim, para uma ampla continuidade espacial e, por via disto, proporcionando maior proximidade entre as suas gentes.
Destinado aos mais diversos públicos, mais ou menos jovens, aqui poderão ser observados dados inéditos e fundamentais para a compreensão dos primeiros momentos da nacionalidade, nas suas dimensões política, militar, social, económica e mental.
É esse o objetivo. Aliar, neste espaço domínios diversos do conhecimento, permitindo a sua ampla fruição, dando lugar à experimentação e à exploração de vivências únicas através de uma oferta de conteúdos expositivos e multimédia apelativos e de última geração.