Opinião: Dizem que vão dar médico de família a todos os Portugueses…

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Inês Rosendo

Inês Rosendo

Estamos em época de promessas e desesperadamente tentar ainda cumprir algumas de última hora. Dizem que vão dar médico de família a todos os portugueses. Fica sempre bem tentar esta promessa: a maioria das pessoas sente a sua falta demasiadas vezes para serem indiferentes a estas palavras (infelizmente talvez não as pessoas certas, como certas ilhas lisboetas vivendo num mundo paralelo de privados e seguros).

Enfim, dizem que o vão fazer, mas depois subtilmente vão deixando a vida dos médicos de família completamente caótica e descaradamente vão lançando para a comunicação social areias brilhantes para parecer que o país em breve ficará cheio de médicos de família para todos, brilhantes e disponíveis, rápidos e bons, como todo o português quer.

Dizem, mas, de repente, aparecem concursos caóticos, descoordenados a nível nacional, com entrevistas subjetivas em que é fácil haver favorecimentos e vagas não muito bem definidas e insuficientes para as necessidades do país, que obrigam os médicos de família recém-formados a andar com os cabelos em pé, a pensar mudar toda a sua vida, questionar a sua vocação e querer fugir de um país onde ser médico de família só é bom para os políticos fazerem propaganda nos jornais.

Dizem, até, que vão criar incentivos para os médicos alargarem as suas listas mas todos os dias aparece mais alguma lei ou regra que obriga a aumentar as burocracias feitas por médicos de família (sim, agora, até para as fraldas de idosos serem comparticipadas, têm de ser os médicos de família a preencher formulários intermináveis para o efeito).

E assim passam mais tempo a tratar de papéis do que a falar com pessoas. E, para não deixar as pessoas para trás, fazem horas e horas a mais a tratar dos papéis. Como é que ainda podem tratar de mais pessoas, mesmo que pagos, que necessariamente ainda vão trazer mais papéis? Os dias só têm 24 horas, e o médico de família até pode quase não comer, mas ainda tem de dormir…

Dizem que precisam de médicos de família no interior e criam incentivos para médicos trabalharem no interior… mas nos hospitais!

Dizem… percebo que não podemos fazer omoletes sem ovos (apesar de insistirem em que o tentemos, todos os dias) mas não podemos andar a enganar deliberadamente as pessoas só porque em época eleitoral vale tudo. Por um lado há que investir os esforços em otimizar os “ovos” que temos de forma mais eficaz ouvindo os profissionais de saúde e não insistindo em continuar a espremer “ovos” da mesma forma que sempre se tem feito (e que não tem resultado muito bem como se vê).

E, por outro lado, há que ser honesto com as pessoas e não fazer notícias só com a metade luminosa do país. E, pior ainda, não fazer tudo de forma rápida e atabalhoada, só para dizer que se fez. Os concursos de médicos de família (e médicos em geral) têm de ser revistos. As burocracias dos médicos de família têm de ser diminuídas.

Os incentivos podem ser pensados, mas as condições efetivas de trabalho são mais importantes. Com organização, método e uma linha estratégica coerente é possível dar médico de família a todos. Mas não basta dizer, há que fazer. E fazer bem.

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