A Regionalização só é defensável em países com grande coesão territorial, caso contrário ainda vai acentuar mais as assimetrias. Aliás, os grandes defensores da regionalização são precisamente aqueles que aspiram a que a sua cidade seja a Lisboa da sua região. Ou seja, não pretendem inverter o modelo da Cidade Estado mas copiá-lo.
Ora, existe um argumento verdadeiramente demolidor contra a Regionalização: a unidade milenar de um pequeno país que uma fabulosa rede de auto-estradas e o acesso generalizado à internet teve o condão de tornar todas as cidades vizinhas. Mas é precisamente chegados aqui que aqueles que são contra a Regionalização não extraem a consequente ilação.
Com efeito, se é verdade que Lisboa está hoje perto de tudo, como argumentam e bem aqueles que são contra a Regionalização, por que razão, então, está hoje tudo em Lisboa? E faz algum sentido atravancar Lisboa com todos os órgãos de direcção do estado e da administração pública, com universidades públicas e quartéis da tropa, obrigando o país inteiro a esvaziar-se para Lisboa, para depois se vir reivindicar a introdução de portagens na entrada de Lisboa porque a cidade já não suporta tanto trânsito automóvel e começa a ter níveis de poluição preocupantes?
Mas se a Regionalização não é a solução, os micro-municípios também não são e pela mesma razão. Para vivermos num país equilibrado, quer do ponto de vista estrutural, quer do ponto de vista da defesa do estado de direito, as autarquias têm de ganhar dimensão.
Não é possível sequer garantir a independência do exercício do cargo, nem a racionalidade económica e a boa gestão dos recursos, a políticos eleitos em autarquias com menos de 100 ou 200 mil eleitores, o que não significa, saliente-se, o encerramento dos serviços públicos prestados pelas câmaras municipais. Pelo contrário, o actual modelo é que vai levar inevitavelmente ao encerramento das câmaras municipais num processo de canibalização em que os grandes vão devorando os pequenos.
Ora, não se deve confundir serviços de proximidade com políticos de proximidade. Os serviços devem estar próximos das pessoas mas os eleitos têm de estar necessariamente a uma distância de segurança que os impeça de ficarem reféns de um pequeno colégio eleitoral.
Concluindo: somos um pequeno país cuja organização política e administrativa, para além de o tornar ainda mais pequeno, torna-nos pequeninos porque promove e fomenta a corrupção, a inveja, a mediocridade e o caciquismo.
É certo que, se quiséssemos, podíamos mudar o nosso destino. Como disse Alexandre Herculano, “o desejo mede os obstáculos, a vontade vence-os”. Mas o nosso problema é precisamente esse: muito desejo mas nenhuma vontade. Ou melhor, quem tem vontade de mudar, muda de país, e só aqui fica quem quer que tudo continue na mesma como a lesma.
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