O festival Citemor realiza, a partir de hoje, em Montemor-o-Velho, a sua 37.ª edição, a terceira consecutiva sem “apoios estruturais”, com a organização a encarar o evento como um “ato de puro ativismo”.
Até sábado, vai ser possível ver espetáculos únicos do Teatro do Vestido e de Elena Córdoba e Francisco Camacho, produzidos para o Citemor, e uma peça do Colectivo 84, “Pasolini is me”, com a participação dos atores Albano Jerónimo e Ana Bustorff.
O festival, que foi apoiado pelo Estado desde a sua fundação, teve apenas um “apoio pontual” de 25 mil euros nos últimos três anos, sendo a sua realização encarada pela organização como “um ato de puro ativismo”, disse à agência Lusa o diretor do Citemor, Armando Valente, considerando que o futuro do projeto “está em suspenso”.
“Estamos numa situação muito delicada e difícil”, explanou, frisando que, até ao final de 2015, a organização vai refletir sobre a continuidade do Citemor.
A 37.ª edição do festival realiza-se num ambiente de “precariedade absoluta”, em que o evento é um “gesto de indignação” e ao mesmo tempo de “esperança”, afirmou Armando Valente.
“Não aceitamos a inevitabilidade que nos querem impor”, salientou, referindo que “a esperança é decisiva para a capacidade de nos projetarmos no futuro, e temos a responsabilidade de procurar formas alternativas para defender os valores em que acreditamos”.
Num comunicado, o Citemor explica ainda que entendeu que a decisão de suspender o festival este ano não deveria ser feita entre a organização e, após, ouvir artistas e companhias, optou por fazer o festival e prolongar para o outono a discussão de “formas concretas para garantir a continuidade” do projeto, em 2016.
O evento arranca hoje, às 22:00, no Teatro Esther de Carvalho, com uma palestra da jornalista e escritora Cláudia Galhós, seguida de uma discussão sobre o percurso do festival.
Na sexta-feira, é apresentado um espetáculo de Elena Córdoba e Francisco Camacho, seguido de “Bairro das Ex-colónias”, do Teatro do Vestido, e de “The Horn of Plenty Dress”, de Tania Arias.
No último dia, vai ao palco do Teatro Esther de Carvalho o trabalho “Coleção de Amantes”, de Raquel André, uma espécie de “antevisão” do que vai acontecer na estreia do projeto, em setembro, no Teatro Nacional Dona Maria II, em Lisboa, e o espetáculo “Pasolini is Me”, do Coletivo 84, que conta com a participação dos atores Albano Jerónimo e Ana Bustorff.
O preço do bilhete, como já vem sendo habitual no Citemor, é definido pelo espetador.
O Citemor realizou-se pela primeira vez, com a atual designação, em 1978, mas as suas raízes remontam à década de 1960 e à iniciativa do professor Paulo Quintela, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, fundador e primeiro diretor artístico do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC).
O primeiro festival de teatro de Montemor-o-Velho decorreu, no entanto, em 1974, cerca de quatro anos após a criação do Centro de Iniciação Teatral Esther de Carvalho, antecedendo o modelo do Citemor que, ao longo de mais de três décadas, tem mobilizado criadores de diferentes países, nas áreas do teatro, da dança, da música, da literatura e das artes visuais.
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