Opinião – Amargores

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Aires Antunes Diniz

Aires Antunes Diniz

O que mais devia amargurar os portugueses é o continuado maltratar dos que produzem ciência e que, pela sua honestidade e valor, vão tendo amarguras com que todos sofremos, pois prejudicam a necessária transferência de ciência e tecnologia para o nosso quotidiano, tão carente delas.
Escondidas estão estas histórias e a poucos convém que se saiba: “É triste relembrar que tão friamente se falasse de quem tão caloroso incitamento merecia, mas é preciso relembrar que Manuel Paulino um estudioso lente da Universidade de Coimbra, entrou na questão filoxérica quase por imposição política, tendo desconhecimento do que se tratava ao tomar conta da Direção dos serviços, por dela não se ter até ali ocupado, sendo colhido de surpresa para o cargo a que viera ocupar e que tantos amargores de boca lhe trouxeram. Entretanto para exercê-lo não lhe faltava competência, sendo um dos nossos mais conceituados entomólogos”1 .
Custou-me também muito esforço saber porque foi afastado deste cargo.
Mesmo agora os arquivos pouco ou nada dizem sobre as razões que atrasaram a solução da questão filoxérica que alguns, erradamente, chamam de crise. Também ninguém parece saber que uma parte do Jardim Botânico foi então uma vinha experimental, que uns maduros mandaram arrancar contra a vontade do Visconde de Vila Maior, de Júlio Henriques e de Manuel Paulino de Oliveira.
E, assim sabemos que a crise é feita sempre de prepotência e de cobardia dos que aceitam imposições estúpidas ou de má-fé.
De facto, nesta questão filoxérica houve quem ganhasse e bem com o atraso na tomada de medidas acertadas, fazendo também com que os que sabiam como a resolver se afastassem desgostosos e os deixassem à solta. Agora temos a questão do papel comercial. Antes tivemos a questão da Parque escolar. Temos junto ao Mondego uns prédios por construir. Uma linha parada e uns maduros, cujos nomes e más ações, alguma imprensa tenta ocultar através do “segredo jornalístico”, e só para que todos pensem que há crise e não há nenhuma questão a resolver.
Contudo, circulam por aí emails e, ainda, notícias partilhadas nas páginas de blogs e Facebook, que vão contando as verdades a que temos direito para nosso uso e para não sermos comidos por lorpas. Contudo, outros dizem que não há nada a fazer. Muitos tremem de medo e quando, em situações escabrosas, lhes perguntam porque nada fizeram, dizem que não sabiam de nada. E ninguém acredita.
Todos sabemos que são cobardes acomodados.
Entretanto, os que mandam mandam-nos emigrar.
E eles ficam cá. Na zona de conforto.
Têm cá um paleio.
Desconfiemos.
É perigoso acreditar neles.
Sabemos por experiência.

1 – Saavedra, José Augusto Pinto da Cunha – Provesende – Templo Romano de S.ta Marinha (V Século da E.C.), prefácio pelo Dr. José Pinto da Cunha Saavedra, Lisboa, 1935, p. 200.

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