De um espaço público que estava ao abandono há alguns anos nasceu uma sementeira partilhada, através da qual a associação Coimbra em Transição quer incitar as pessoas a criarem pequenas hortas, nas suas varandas, jardins ou parapeitos de janelas.
A associação recebeu o espaço, que se situa no Jardim da Sereia, no centro de Coimbra, entre “janeiro e fevereiro” e, para rapidamente o aproveitar, por fevereiro ser a altura das sementeiras, decidiu lançar um desafio à cidade, utilizando o princípio de um almoço partilhado.
A 08 de março, convidaram as pessoas a levar areia, terra, embalagens e sementes para se criar a sementeira partilhada na estufa do jardim, disse à agência Lusa a presidente da assembleia geral da Coimbra em Transição, Patrícia Miguel.
Na sementeira, que dá agora os primeiros passos, encontram-se já pequenas plantas, flores comestíveis, frutas e ervas aromáticas, como tomateiros, coentros, manjericão, beterraba, alface ou alho francês, bem como produtos menos conhecidos como borragem, calêndulas, cravo-túnico ou bergamato.
A partir de oficinas em que “não se paga para aprender”, a associação ganha “a mão-de-obra e os recursos” e, por outro lado, ensina “as pessoas como se semeia, como se transplanta e qual a melhor altura para cada semente”, conta.
“Há muita gente que não sabe como semear ou como fazer de uma semente uma planta – algo comestível e que possa colher”, frisa Patrícia.
Contudo, o objetivo não é apenas ensinar os participantes a semear ou a fazer a manutenção de uma horta, mas também “abrir um espaço da cidade às pessoas”, bem como dar “autonomia a quem aprender a semear, ao ponto de ter um controlo maior sobre aquilo que come”.
Segundo Patrícia Miguel, há duas vontades nas pessoas que participam na sementeira: há quem queira ter “a horta em sua casa, muitas vezes numa varanda ou num parapeito de uma janela,” e “há quem não tenha espaço para uma horta e sente que tem aqui um espaço”.
A formação ocorre em eventos concretos, sendo o próximo no dia 11, aquando da transplantação dos produtos da estufa do jardim para pequenas hortas, situadas à sua frente.
O projeto culmina com a colheita, que também é partilhada, explica a membro da associação, sublinhando que o produto final não é contabilizado nem dividido entre os participantes, sendo toda a iniciativa de cariz pedagógico e de partilha informal.
A iniciativa vai também contar com uma parceria com a Associação Nacional de Intervenção Precoce, em que as crianças da creche vão poder “acompanhar a horta” à medida que ela vai crescendo.
“É importante para as crianças uma ligação entre elas e aquilo que encontram nas prateleiras do supermercado”, sublinha Patrícia Miguel.
Miguel Poiares, que participa na sementeira, era designer e, “depois de trabalhar tanto com computadores, queria algo mais relacionado com a natureza”, olhando para a iniciativa como uma forma de se aproveitar um “espaço abandonado”.
“É ótimo, para se vir aqui relaxar e desanuviar um bocadinho”, refere.
Para Lurdes Mateus, da Coimbra em Transição, um dos objetivos principais é a sensibilização para a produção local, salientando que, com esta ação, as pessoas poderão fazer “pequenas hortas urbanas num quintal, numa varanda ou num vaso”, tendo depois o prazer “de colher e comer coisas que se sabe de onde vêm”.