A Austeridade que foi, é, aplicada revela-se tão-só como uma das muitas noções erróneas nascidas de uma ideia insensata do tecido económico-financeiro português. Não temos um “exército industrial” em que os incentivos – baixa de custos do trabalho, diminuição da TSU – produzam um efeito directo na competitividade das empresas no mercado externo.
Não somos a realidade alemã, da Finlândia, da Suécia, da Itália. Na realidade, a nossa indústria tradicional, calçado, têxtil, tornou-se competitiva ( anote-se a quota de mercado conquistado ) não pelo baixo custo proveniente de mão-obra intensiva, onde se privilegiava a quantidade produzida, mas pelo incorporação da mais-valia tecnológica, designer, marketing, etc..
Também no ramo agropecuário será de realçar que é a mais-valia do “saber” que nos tem tornado competitivos; exemplo surpreendente é o sector dos vinhos, onde já não se plantam vinhas de uma só casta e em que o enólogo (saber técnico)) é imprescindível.
Outros exemplos, análogos, poderiam ser mencionados.
Pretendo, assim, dizer que temos um problema social grave a resolver, qual seja, o emprego. Temos um problema financeiro grave a resolver. Temos um problema económico grave a resolver.
Há quem defenda a “Austeridade” inscrevendo-lhe graus inferiores de desenvolvimento e da auto-realização da razão. E, para ser mais especifico o elemento decisivo no todo…é só um elemento absoluto: mercado financeiro ( leia-se défice orçamental do Estado ). E para sermos intelectualmente honestos haverá que se convir que sendo a austeridade um processo racional não é, helás, um processo razoável.
Parece-me, pois, que o “exercício” macro-económico apresentado pelo Partido Socialista, vem compaginar o processo racional com o processo razoável, onde se dá ênfase ao interesse social – o emprego tendencialmente estável, vem enfrentar o problema financeiro – tendencialmente de receitas fiscais acrescidas, vem incentivar o investimento económico – dando particular importância à mais-valia das competências do “saber”.
Sobre este “exercício” macro-económico, a torrente palavrosa de “despesismo”, “de regresso ao passado”, do “regresso da Troika assegurado”, e tantos outros argumentos do mesmo jaez, não nos levam longe, não nos levam a lado nenhum.
O Relatório Macro-económico para dez anos ( pouca importância se tem dado ao período temporal !) … existe essencialmente AGORA; isto implica necessáriamente que a forma presente do Estudo contém e supera todas as etapas anteriores. Consegue ser mais franco do que isso.
Não obstante, sem embargo do que disse, uma incógnita subsiste: “a natureza humana”; como vão reagir “as gentes, os agentes”? O Estudo pretende plantar sobreiros, ser rentável e produtivo ao fim de uma década, porventura “a natureza humana” dos imediatistas, os que lhe tecem críticas mais ferozes, preferem a cultura dos eucaliptos, que tudo secam em redor, mas que dão uma visão, ficcionada, de floresta…
Nota final. Uma coisa é certa: a bipolarização política, que sempre tenho defendido, começa a dar sinais de concretização; assim como já se concretizou o que defendi durante três anos – a intervenção do BCE no problema das dívidas soberanas com a consequente baixa das taxas de juro. O bom-senso por vezes tarda, mas sempre acaba por fazer acontecer.