“Papai, é verdade que os portugueses roubaram as riquezas do Brasil e que maltrataram os índios? A professora da escola disse isso, hoje.” – confrontou-me a minha filha Bia, de seis anos. Pela segunda vez e em pouco tempo.
Existe no Brasil uma espécie de revisionismo de Estado. Reescrever a história de modo a que os portugueses apareçam como vilãos, gente torpe, corrupta e inculta tornou-se narrativa oficial. As escolas ensinam esse tipo de versão.
A mídia repete-a muitas vezes. Aliás – àparte algumas anedotas que até têm piada sobre nós – tornou-se comum justificar os males endémicos do país (da corrupção à ineficência, passando pela baixa produtividade) como responsabilidade da malfadada herança deixada pelos portugueses.
O Brasil, quase duzentos anos decorridos da Independência, ainda vive sobressaltos coloniais. Não pretende submeter-se a uma psicanálise coletiva, porque isso justifica muito dos seus próprios erros enquanto nação. Dá jeito que assim seja. Mas as potências não se comportam assim!..
A unidade geográfica do país – que tem dimensão continental – deve-se aos portugueses que lutaram e morreram por manter as fronteiras que até hoje permanecem. Mais, a colonialização (que teve excessos, obviamente) foi exemplar quando comparada com a chacina cultural e a mortandade que os Espanhois provocaram aqui ao lado, do que é hoje o México ao Chile.
A história é memória e não vale a pena reescrevê-la, mas importa tê-la presente. Por isso mesmo caberia em primeiro lugar ao governo português ter uma estratégia para o Brasil – que não tem!! – e para a preservação do legado histórico e da identidade nacionais fora de portas – cujo governo não faz ideia do que seja!
Pela minha parte, cuidarei de contar à minha filha a chegada a Porto Seguro, em 1500, a vinda da Corte, em 1807, e sobretudo sobre o carinho imenso que Portugal tem pelo Brasil! Sem falsos moralismos!