Há 70 anos que Álvaro se dedica a uma coleção que reflete a história de Coimbra

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Coimbra

Postais, fotografias, discos de vinil, livros e até baralhos de cartas. Desde que estejam ligados a Coimbra, Álvaro de Oliveira, de 79 anos, deita-lhes a mão, exibindo com orgulho os milhares de objetos sobre a cidade onde nasceu.

Postais são mais de quatro mil, bem como as fotografias que vai retirando de álbuns arrumados na pequena arrecadação da sua casa, numa coleção que começou quando ainda era um “moço” com oito ou nove anos, seguindo as pisadas do pai.

Mostra com um sorriso nos lábios os postais do início do século XX e fotografias de uma Coimbra que já não existe ou que mudou de rosto, admitindo o prazer na admiração das pessoas que olham para as mudanças que foram ocorrendo na cidade e contando, com uma memória que procura não falhar, a evolução de locais e espaços de Coimbra.

Álvaro começou por colecionar de “tudo um pouco” – uma espécie de entretém, onde na altura cabiam as coleções de cromos de jogadores de futebol.

O que conseguia sobre Coimbra era a partir da generosidade das pessoas. Fosse de um bibliotecário que lhe arranjava livros ou a partir de coleções de fotógrafos amadores, numa altura em que “quem tinha máquina fotográfica era rei”.

Não havia dinheiro para alimentar o “bichinho” do colecionismo. “A altura era uma altura má: altura da guerra”, diz à agência Lusa, contando que depois da “demolição da velha Alta” de Coimbra, nas décadas de 1940 e 1950, e de ter ido morar para o Bairro de Celas, é que “o gosto” por objetos sobre Coimbra se intensificou.

Mas apenas depois do 25 de Abril, já como motorista da câmara, seguindo também aí o percurso do pai, é que começou a gastar algum dinheiro na sua coleção.

Quando ia a Lisboa em serviço, aos sábados, “saía às tês ou quatro da madrugada” e estava às sete da manhã “na feira da Ladra e então virava aquilo tudo”, havendo alfarrabistas e vendedores que, quando chegava, já sabiam o que queria e reservavam-lhe objetos, sempre relacionados com a sua cidade.

“Muita obra jeitosa que lá comprei”, sublinha Álvaro.

Ultimamente, a coleção “não tem crescido muito”, e são poucas as coisas que vai comprando.

Da coleção, apesar de ser difícil destacar objetos, que “são tantos”, guarda com especial carinho as fotografias do funeral de 13 pessoas que morreram em 1938, num exercício dos bombeiros, na Praça da República, sendo uma das vítimas um tio seu.

“Foi uma tragédia”, refere.

Mostra com orgulho as muitas fotografias que tem “do maior fotógrafo de Coimbra, o Varela Pèrcuto”, cartazes da praia fluvial da primeira metade do século, fotografias da Praça da República “com três ou quatro casas”, livros a favor e contra a praxe ou álbuns de vinil de Canção de Coimbra.

Apesar do gosto pelo analógico, Álvaro não parou no tempo e também compra cd e dvd relacionados com Coimbra.

Enquanto puder, vai continuando a coleção, que “muito tempo e dinheiro” investiu.

No futuro, quer que tudo passe para o seu filho, como passou do pai para Álvaro, coleção que, na altura, nem com cem postais contava.

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