Opinião – Académica contra Académica?

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Nuno Oliveira

Nuno Oliveira

No passado domingo, defrontaram-se, pela 2.ª vez esta época, em jogo a contar para a Divisão de Honra do Campeonato Distrital da AFC, a Académica/Secção de Futebol e a Académica/Organismo Autónomo de Futebol.

Confesso que o resultado é o que menos importa. Ver jogar “camisolas pretas” contra “camisolas pretas” é “antinatura” e colide com os princípios que estiveram subjacentes à criação do Organismo Autónomo de Futebol, a 27 de Julho de 1984, como se depreende da leitura do protocolo assinado pelo Presidente da AAC (Dr. Ricardo Roque) e pelo Presidente do CAC (Eng. Jorge Anjinho), no qual também interveio decisivamente a própria Universidade (através do Reitor, Doutor Rui de Alarcão), onde consta, designadamente, que “o Organismo Autónomo procurará continuar a obra da antiga Secção de Futebol da AAC, quer na alta competição do futebol, quer na formação social dos seus atletas”.

Ver entrar em campo, para se defrontarem, “duas Académicas” é algo que deve merecer uma aprofundada reflexão. O mais determinante não é, neste momento, apurar responsabilidades. Todos teremos uma quota-parte. Este jogo simboliza, porventura, o epílogo de um processo que tem conhecido vários episódios ao longo dos anos, porquanto, ao nível da formação, os jogos entre a Académica/SF e a Académica/OAF são uma realidade desde há muito.

E este facto é tanto mais grave se tivermos em conta que o sentimento instalado entre os vários intervenientes é de rivalidade. Na prática, e por muito que se queira afirmar e difundir a tese de que só há uma Académica, este (s) jogo (s) reflecte (m) o inverso. Tudo isto não deixa de contribuir, estou em crer, para o progressivo distanciamento e alheamento das pessoas da AAC/OAF.

Desde criança que os meus fins-de-semana eram sistematicamente preenchidos a ver jogar a Académica, fosse no Calhabé, no Santa Cruz, no Pavilhão Eng. Jorge Anjinho ou no Pavilhão do Estádio Universitário, vibrando com o futebol, o basquetebol, o andebol ou o hóquei em patins. Julgo que muitos dos que lêem este texto se revêem no que escrevo.

Vivemos sempre a Académica como um todo, como uma Instituição una, que nos apaixonava e mobilizava a todos. Ouvir, por estes dias, jovens atletas e seus familiares, repetirem frases como “sou da Secção”, “sou do OAF”, ou “nós é que somos a verdadeira Académica”, é algo que me preocupa e entristece. A Académica não é isto.

É urgente implementar uma visão agregadora na Académica, desde a formação até aos escalões seniores, passando pela utilização dos espaços desportivos. Como se explica que actualmente, e a título de exemplo, muitos dos jogadores da formação AAC/OAF que estão a residir na Academia não estudem? Onde está aqui o contributo da AAC/OAF na “formação social” dos seus atletas? O caminho que está a ser trilhado é precisamente o inverso.

Aliás, e no que à partilha dos espaços desportivos diz respeito, o recente comunicado da Secção de Ginástica da AAC (que dá nota de ter sido definitivamente impossibilitada de utilizar o Pavilhão Jorge Anjinho para os seus 500 atletas, por parte da AAC/OAF), apenas vem espelhar esta triste realidade.

Trinta anos após o regresso à casa-mãe, estamos mais afastados que nunca. No jogo de ontem perderam uns. A continuar assim perdemos todos.

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