Opinião – Da música (28)

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Virgílio Caseiro

Virgílio Caseiro

Um dos assuntos mais interessantes ligados à música, será talvez o ensino da própria música. Duas estradas, entre muitas outras, se nos abrem para o abordar desta rica temática: como se ensina e onde se ensina.

A razão de ser da escolha destes dois itens para hoje não foi aleatória e decorreu do facto de entender serem pontos de enfoque de profunda conturbação e falta de esclarecimento.

Como se ensina música? Só o facto da consciência havida da profundidade de abordagem permitida por crónicas deste jeito me deixa continuar. Noutro caso teria que pedir ao director do jornal espaço reservado em exclusividade e em meses continuados… Mas podemos ser sintéticos e pragmáticos: ensina-se, instruindo! Ou seja, debitando para o lado do aluno um conjunto de conhecimentos, organizados por unidades e referentes a um determinado programa oficializado, e em simultâneo montando uma cadeia inquebrável de “policiamento” dos conhecimentos adquiridos, de forma a que se possa, a qualquer momento do processo de aprendizagem, “exigir” ao aluno a devolução correcta e integral dos conhecimentos emprestados com intenção perene.

Claro que é pressuposto uma determinada metodologia (e disso falaremos de outra vez) bem como um sério e denso corpo de assuntos. É também fundamental sabermos se estamos na Europa, na África ou na Ásia, já que este factor pode ser determinante para a definição do que é importante ensinar. Nesta Europa, que vaidosa e caprichosamente pensamos ser a cabeça do mundo, ensinar academicamente música será, entre muitas outras coisa, é certo, permitir o acesso conhecido a um código de linguagem herdado do período barroco e que nos diz que a música se escreve e lê, em princípio, num pentagrama, bordado por uma clave, ornamentado por sustenidos ou bemóis e finalmente dançado por figuras, quase sempre mínimas, semínimas, colcheias e semicolcheias. Pode ser ainda forte ou fraca, lenta ou rápida. Quanto às notas, convém serem no menor número possível, para não criarem grande inquietação!

Contudo, quem atinadamente absorveu o tudo que lhe ensinaram, continua esclarecedoramente analfabeto se for posto perante uma partitura medieval, renascentista ou mesmo contemporânea. Sim, contemporânea, foi isso que disse, já que os compositores actuais, fartos de uma prisão de expressão com 3 séculos de história, caminham, cada vez mais, para novas formas de escrita e óbvia leitura que muito pouco ou nada têm a ver com o sistema chamado tradicional ou conservatorial. À pergunta, “onde se ensina?”, a resposta não deixa de ser ainda mais bizarra. Não por falta de locais, mas precisamente pela diversificação da sua existência e seus resultados. Ensina-se nos Conservatórios Nacionais e Regionais, nas Escolas Superiores de Música e de Educação, nas Escolas Profissionais, nos Ciclos Preparatórios e nas Universidades, nas Filarmónicas civis e militares, nos colégios e escolas privados, e eu sei lá aonde mais!

Quase todos estes locais estão oficializados. Porém, só alguns fornecem habilitação. E é precisamente a este nível que se gera a mais completa anarquia, desalento e incongruência. Institucionalmente nada de errado se passa, entenda-se, mas tudo isto acontece no domínio das competências. Pode-se ser Doutor quase sem “saber música”, pode-se “saber música”, e muita, e ser só Bacharel, pode-se saber ou não saber e ser ou não ser uma coisa nem outra, pode-se simplesmente não ter habilitação nenhuma, enfim, um autentico pandemónio e atentado a quem quer encarar estas coisas com alguma sinceridade e dignidade!

Precisava de perceber isto melhor? Ficou confuso? O assunto interessa-lhe? Então bisbilhote-o melhor e com mais cuidado e vai ver que não dá o tempo por perdido, em função do que se vai divertir e perante as constatações a que vai chegar. Uma autêntica república das bananas, das bananas!

E para si, jovem, um conselho final: não perca muito tempo a aprender ou a tocar, ouviu? Faça-se mas é Doutor. Doutor, e vai ver que tem o seu problema resolvido!

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