Véspera de Natal é sempre uma data de recordações. Boas e más. Mais boas do que más. Também porque, a recordação de alguns que nos faziam companhia, serve sobretudo para percebermos que, “daqui a pouco, ou muito, quem sabe”, lhes iremos fazer companhia.
Confesso que nem sempre tenho bons pensamentos. Se o contrário se verificasse, eu já não era eu e, só cá para nós, seria uma tremenda “de uma chatice”!
Lembro-me de quem me faz falta. Da família sobretudo, mas também de muitos que ajudaram a preencher a minha vida. Alguns até, que nem tão pouco sabiam da minha existência. Mas quando partiam levavam sempre um pedaço de mim.
Discussões acaloradas, sérias sempre, faziam o gaudio de alguns e a inveja de outros. Lá estou eu com estas coisas!
Gosto de sair da cidade que me viu nascer. Esta data não é famosa em recordações. Pelo menos, por dois curtos dias descanso longe. É que, depois de aposentado consegui encontrar “sarna para me coçar”!
Sair do “sítio” não sai do coração. Essa angústia anda sempre connosco, adormecida ao longo do ano, é certo, mas muito latente quando as recordações se tornam presentes.
Não gosto, decisivamente, de rebuscar palavras, de redescobrir conceitos, de escrever banalidades, de afirmar lugares-comuns. Não gosto e não tenho jeito. Por isso, escrever hoje o que quer que seja, serve sobretudo para estruturar o futuro e dizer aos que ainda por cá andam, que ainda podem contar comigo.
Esta mescla de passado e futuro mexe com o meu presente. E ainda bem. Significa que estão todos presentes e que a sua presença serve de lenitivo para o que ainda tenho pela frente. Não falo em tempo de vida ou de saúde. Falo de esforço, de dedicação, de amizade e solidariedade, sem os quais nada se consegue.
Felizmente os meus filhos estão por perto.
O meu pensamento desde há muito, que não só hoje, vai para os Pais que estão mais sós, quando deveriam estar mais acompanhados.
A sociedade mudou, é certo, mas ninguém se habitua à ideia de, passados muitos e longos anos de trabalho e sacrifício para ajudar os filhos a crescer, eles sejam obrigados a deixar o solo Pátrio.
Portugal está a fazer mal aos seus cidadãos.
Que o Natal, que não só o espírito natalício, devolva Portugal aos portugueses, à sua história, à sua memória coletiva.
Gostava de os ver regressar, um dia, quando uma nova e renovada luz se abater neste “País à beira mar plantado”.
Por muito que digam, que ralhem, que critiquem, ou até nos queiram mal, sobreviremos a mais esta provação com dignidade, com a cabeça erguida, porque “nós não somos os melhores…somos únicos”.