Opinião – “Dois dias, uma noite” e a corajosa luta dos trabalhadores da Soporcel

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Rita Rato

Rita Rato

“Dois dias, uma noite” é um filme extraordinário de 2014, de Jean-Pierre Dardenne e de Luc Dardenne. Conta a dramática história de uma trabalhadora de uma empresa de painéis solares que volta ao local de trabalho depois de uma baixa médica prolongada. O patrão coloca aos restantes trabalhadores uma escolha: aceitar o regresso de Sandra ou manter o bónus salarial pelas tarefas extra que fizeram durante o período de baixa da colega. Não vou revelar o final do filme, esta história de solidariedade e coragem merece ser vista, infelizmente apenas está em cartaz em Lisboa.
Esta história merece ser vista porque vivemos num tempo em que tantas mulheres e homens, pela primeira vez nas suas vidas, são chamados a lutar de forma corajosa pelos seus direitos e dignidade.
A luta dos trabalhadores da Soporcel na Figueira da Foz é bem um exemplo disto. A Soporcel é a segunda maior empresa exportadora nacional, com lucros consolidados durante vários anos sucessivos superiores a 200 milhões de euros.
Existiria “bom” ambiente na empresa, contudo, nos últimos anos tem vindo a degradar-se devido à postura da Administração ao anunciar decisões como factos consumados decididos unilateralmente e sem qualquer envolvimento dos trabalhadores.
Desde que, em 2004, o Grupo Semapa adquiriu a maioria do capital da Portucel, a Administração impediu a progressão nas carreiras, reduziu o valor do trabalho extraordinário e acabou com o descanso compensatório. Em 2013 preparou um processo unilateral de extinção de quotas-partes dos participantes no Fundo de Pensões Soporcel, que garantia aos trabalhadores com mais de 25 anos de empresa um valor fixo de 30% do último salário como complemento de reforma.
Em outubro de 2014, o Grupo Portucel Soporcel procurou consumar um processo de despedimento iniciado há mais de um ano e preparado nas costas dos trabalhadores. Para concretizar esse objetivo, a empresa reuniu individualmente com cada um dos 6 trabalhadores, numa tentativa de coação e ameaça, para que aceitassem a rescisão dos contratos de trabalho com indemnizações abaixo da Lei, a passagem para uma empresa de prestação de serviços e apenas 60% do salário.
Só a luta determinada e a unidade e a coragem dos trabalhadores da Soporcel permitiu travar ataques mais graves e defender direitos e postos de trabalho. É repugnante o desrespeito e o desprezo da Administração da Soporcel para com os trabalhadores, muitos com mais de 30 anos de casa e que ao longo dos anos têm prestado o seu trabalho com grande dedicação e com isso contribuído para os lucros acumulados.
No passado dia 9 de dezembro recebi, em representação do Grupo Parlamentar do PCP, uma delegação de trabalhadores da Soporcel e das suas organizações representativas. Mulheres e homens que dedicaram as suas vidas a uma empresa que agora lhes vira as costas. Nesse dia confirmei uma convicção: nunca é tarde para lutar! Por uma política de afirmação da Constituição da República e dos valores de Abril, de liberdade, democracia, soberania e progresso social.

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