Opinião – O que alguns políticos não têm e outros não podem perder

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Bruno Paixão

Bruno Paixão

Dizer que todos os políticos são corruptos é tão válido quanto dizer que todas as pessoas gordas são bem-dispostas, que todos os espanhóis são barulhentos, que as loiras são burras ou que os brasileiros são preguiçosos. A estereotipização costuma dar origem a erros de análise e a distorções da informação, o que provoca o desinteresse do cidadão face à vida política.

Por isso, dizer que os políticos são todos iguais é um exercício fácil para quem há muito se afastou da esperança de ver fazer diferente. Penso que a estereotipização sobre a sua classe é uma das dificuldades que os políticos hoje enfrentam, sobretudo os que no dia-a-dia demonstram saber fazer melhor do que os outros.

Quem está na política sabe que há um novo capital que é usado na vida pública e que pode ser o seu maior trunfo. Trata-se do capital simbólico da reputação, que dota o sujeito político de capacidades para almejar a confiança dos seus concidadãos. Trocado por miúdos, significa que os políticos, sem boa fama, estão perdidos. Estas considerações são úteis para compreendermos a razão pela qual Pierre Bourdieu afirmava em 1989 que o homem político retira a sua força da confiança que a sociedade põe nele. Assim, todos os sujeitos que disputam o espaço público, votos e confiança, são vulneráveis ao julgamento dos cidadãos e, portanto, passíveis de formação de opiniões, imagens e dúvidas.

Habitualmente, a (boa) reputação é construída ao longo do tempo, seja por um indivíduo, seja por uma instituição da qual ele faz parte. E pode também ser perdida ou diminuída muito rapidamente devido à má conduta ou a erros graves. Nesta ótica, a reputação é permanentemente imprescindível a quem quer disputar ou manter o poder político. Ela não se esgota com o uso, ao contrário do dinheiro, mas pode ser destruída com o mau uso.

Outra particularidade inerente à reputação é que se ela for perdida será muito difícil restaurá-la depois. É natural, por isso, que as disputas pelo poder pretendam atingir a reputação dos opositores.

Mas não nos enganemos, pois há dois tipos de reputação: a de caráter, aquela que um indivíduo alcança por ser íntegro; e a da competência, conseguida através da demonstração de aptidões concretas.

Ambos constituem um instrumento útil para cumprir os intuitos políticos. É errado pensar que a reputação se esteia exclusivamente no caráter dos protagonistas políticos, pois essa presunção pode conduzir-nos a uma perigosa armadilha. Ela pode ilusoriamente levar-nos a negligenciar que os eleitores são capazes de valorizar a competência em detrimento da conduta ética e moral.

Essa é a crua razão para que os eleitores votem em políticos que se encontram a braços com a Justiça. Ou seja, há uma certa aquiescência do “rouba mas faz”, recorrendo ao slogan que era imputado ao político brasileiro Ademar de Barros, aquando da sua campanha eleitoral para Prefeito de São Paulo, em 1957.

A generalização espontânea e equívoca de que todos os políticos são corruptos leva-nos a más escolhas, pois favorece que os eleitores possam preferir alguém que faça obra, mesmo que seja pouco sério.

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