A denominada Web social disponibiliza recursos que permitem, a quem tem acesso à tecnologia, a possibilidade de ter uma voz.
Plataformas como o Facebook e o Twitter são uma “nova ágora”, que combina o poder do capital humano e social com o potencial de comunicação global da Web social.
As possibilidades existem, a rede tornou-se dinâmica e a velocidade é uma realidade. O que não significa que a Internet seja um “altifalante” das sociedades ou que materialize o fim da centralidade dos media profissionais.
A detenção de José Sócrates, no âmbito de um processo de investigação de crimes de fraude fiscal, está a preencher a agenda mediática portuguesa. O Facebook e o Twitter têm sido o epicentro do debate.
As televisões citam posts de páginas e perfis, os jornais online fazem fotogalerias com tweets, “Sócrates” é trending topic no Twitter. E as partilhas e os retweets acontecem a uma velocidade vertiginosa.
Dos cidadãos anónimos aos políticos, passando por jornalistas e outras personalidades da vida pública, as intervenções são constantes e as redes sociais têm sido palco das mais acesas discussões.
Todos temos opinião, mas nas redes sociais prevalecem as ideologias dominantes que estão associadas ao status digital de cada interveniente ou à sua relevância na vida pública.
O debate tem-se centrado em torno de posts com opiniões de figuras públicas e partilhas de notícias dos media tradicionais. A linha ténue entre a política e a Justiça faz-se sentir a cada palavra publicada.
Em cada post escrito e apagado, em cada esclarecimento “público” publicado. A inocência não passa nas redes sociais nem pelos assessores. No sábado, a agência Lusa fez mesmo uma compilação do que políticos e figuras públicas escreveram nos media sociais.
A centralidade do processo está nos media tradicionais e em figura-chave da opinião pública portuguesa, que têm utilizado as redes sociais para moldar opiniões essencialmente políticas.
Thompson (1995), na sua teoria da interação comunicativa, defende que a experiência nas sociedades contemporâneas se dissocia dos contextos nos quais os indivíduos vivem e se torna experiência mediada.
Esta reincorporação de novos contextos está presente na comunicação digital e em cada post ou tweet publicado. O “caso José Sócrates”, à semelhança de outros, não é exceção.
É evidente que a mudança técnica impulsionou alterações nas interações sociais e na forma como a informação é veiculada. A sociedade global veicula conteúdos a uma velocidade e vertiginosa.
E uma visita ao Twitter ou ao Facebook é sinónimo de uma catadupa de informação não profissionalizada (e, portanto, não tratada nem confirmada), adicionada e categorizada pelos utilizadores comuns e que faz diferença: passa a mensagem à escala global.
Independentemente da mensagem, o único filtro são os utilizadores da rede. Mas a vida num mundo mediado pode significar ser induzido a interpretar o mundo pela lente dos outros, numa experiência mediada “por materiais simbólicos”, como escreveu Thompson.
A apropriação da rede por redes sociais de conteúdos traduz um importante termómetro, seja de audiências globais, nacionais ou locais. Os novos laços sociais centram-se no conteúdo e na conversação.
Nestes ambientes colectivos, os utilizadores relacionam-se entre si mas também com significados, ações e contextos sociais. Nasceram novos gatekeepers com poder de influência e acesso diretos aos meios e às audiências.
Alguns são utilizadores comuns, mas a maioria são corporativos e/ou especializados. Importa aqui recordar, novamente, Thompson: “a experiência mediada é sempre experiência recontextualizada”.