Mal abre a porta, o sorriso é o que mais cativa. Ermelinda Pires, que há quase 80 anos saiu do seu Trás-os-Montes natal para vir trabalhar para Coimbra, vive há perto de meio século na Travessa do Cabido, ali próximo ao Ateneu, na Alta, vizinha de repúblicas e repúblicos que, garante, são “muito sossegados e amigos”.
D. Ermelinda, como carinhosamente é tratada por todos, é uma das primeiras apoiadas pelo Projeto Alta de Coimbra, desenvolvido pela Atlas para levar refeições quentes e companhia aos idosos sós e carenciados.
Num destes sábados, fomos encontrar-nos com D. Ermelinda e conhecer a equipa de dois jovens voluntários da Atlas que, um dia em cada mês, dão um pouco do seu tempo em troca do sorriso e do afeto da senhora que os recebe como se fossem dois netos que regressam a casa.
À reportagem do DIÁRIO AS BEIRAS, recorda o teto que a Associação Atlas, a desenvolver o Projeto Alta de Coimbra, agora também Velhos Amigos, desde 2009, lhe recuperou, com a ajuda de algumas parcerias fundamentais, há ano e meio. “Foi a melhor coisa que me deram”, disse, convicta, a lembrar-se do que passou.
Agora, D. Ermelinda só tem pena “de não ter sítio onde por as pessoas”. Mas, adianta, olhando com carinho Luís e Filipe, “gosto tanto de companhia. Estes dois rapazes são muito meus amigos e eu gosto muito que eles venham cá, conversamos um bocadito e eu fico muito contente”.
Para Luís Salgueiro, “participar neste projeto é uma coisa maravilhosa. Poder fazer a diferença na vida destas pessoas é extraordinário. A nossa participação é uma coisa muito simples, o essencial é estar disponível para os outros. Nós passamos aqui um bocadinho, fazemos companhia, damos um abraço, um beijo e, com isto, fazemos toda a diferença na vida destas pessoas. E aprendemos imenso”.
“Sentimos a alegria das pessoas com o nosso afeto”
Filipe Gonçalves, há menos tempo no projeto, mas igualmente rendido, deixa também o seu testemunho: “Esta é uma experiência muito gratificante, porque sentimos que ajudamos, por pouco que seja, mas que significa muito para estas pessoas, que quase sempre vivem muito sozinhas. E nós acabamos por sentir a alegria das pessoas, só com a nossa presença e um pouco do nosso afeto”.
O projeto Alta de Coimbra | Velhos Amigos – desde outubro a integrar o Programa Cidadania Ativa, da Fundação Gulbenkian – integra neste momento 17 equipas em Coimbra e chegou, na primavera, a Leiria.
A maior parte dos idosos que apoia, aos fins de semana, quando as instituições se encontram sem serviço, vivem sós e com grandes carências, sobretudo mulheres.
Neste momento, entre as duas cidades, são apoiadas 37 pessoas (33 em Coimbra e quatro em Leiria). Para além dos 150 voluntários das equipas de refeições, a que se somam 30 enfermeiros e psicólogos, a Atlas conta com o apoio de vários restaurantes.