Deveriam existir agências independentes que possam aconselhar os cidadãos na escolha dos empréstimos. Quem o diz é a economista da Universidade de Coimbra e coordenadora de um projeto sobre decisões de crédito ao consumo, Ana Cordeiro Santos.
“Deveriam ser criadas agências independentes que pudessem digerir a informação relativa aos produtos financeiros, que não fossem comprometidas com o sistema financeiro, e também elas reguladas e supervisionadas”, disse à agência Lusa Ana Cordeiro Santos, coordenadora do projeto de investigação “BEHAVE – uma abordagem comportamental às decisões de crédito ao consumo”. Segundo a investigadora do Centro de Estudos Sociais (CES), “o regulador financeiro apenas garante que os bancos fornecem a informação suficiente para a tomada de decisão da pessoa”, quando os cidadãos “aconselham-se em terceiros”, muitas das vezes nos funcionários dos próprios bancos.
A economia “está assente na visão de que toda e qualquer decisão é racional e que a pessoa escolhe sempre aquilo que é a opção do seu melhor interesse”, sendo essa uma visão partilhada pelo regulador financeiro, aclarou. Contudo, face ao observado durante os quatro anos de projeto, “as pessoas não vão recolher toda a informação necessária e nem a comparam”. Ao invés, os cidadãos acabam por ter “uma aversão à decisão”, por se tratarem normalmente de “bens duradouros com encargos repartidos ao longo do tempo”, privilegiando o aconselhamento ao balcão do banco, sublinhou, referindo que, de acordo com o resultado de um questionário do projeto, apesar de os cidadãos apresentarem uma “desconfiança generalizada” nos bancos (3,4 em 10), têm níveis de confiança mais elevados nos seus funcionários (6,2 em10).