Fernando Ramos
Quis a Academia Ibero-Americana de Farmácia, com a anuência do Senhor Diretor da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, que eu usasse da palavra no acto “in Memoriam” da Senhora Professora Doutora Maria Irene Noronha da Silveira, realizado a 17 de Outubro último. Do que então disse, resumo hoje e num próximo texto as ideias principais.
“No princípio era o Verbo…” é assim que começa o 1º capítulo do Evangelho de João, e, seguindo este preceito, importa começar no início:
A Senhora Professora Doutora Irene Silveira nasceu em Leiria a 27 de Setembro de 1944 e cedo demonstrou notáveis capacidades de inteligência. Não será por isso de estranhar que todos os seus professores de então tenham recomendado a seus pais a vinda para a Universidade.
E, de facto, não estavam equivocados: a Licenciatura em Farmácia pela Universidade de Coimbra seria concluída em Outubro de 1971, com média final de 17 valores. A melhor média desse curso. Na Faculdade de Farmácia da Universidade Complutense de Madrid, em Maio de 1977, apresentou a sua Dissertação de Doutoramento.
Fruto da sua atividade científica, apresentou, como autora e co-autora, mais de 500 comunicações em Congressos Nacionais e Internacionais e proferiu mais de 50 conferências por convite, sobretudo em Portugal e em Espanha, onde, não raramente, era apresentada como “Irene Silveira, A Senhora Bromatologia”.
A sua liderança na colaboração em actividades de extensão universitária é manifestamente reconhecida, sobretudo numa época em que se discutia se essa actividade era ou não merecedora da dedicação dos professores universitários…
A gestão universitária contou também com a sua activa participação. Foi Vice-Presidente do Conselho Directivo e Presidente dos Conselhos Pedagógico e Científico da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra. Mas, indiscutivelmente, foi o seu cargo de Vice-Reitora da Universidade de Coimbra, durante o Reitorado do Senhor Professor Doutor Fernando Rebelo, recentemente falecido e a quem aproveito para, também, manifestar a minha homenagem, quem mais a projectou interna e externamente.
A Senhora Professora Irene foi uma distinta e destacada professora que marcou indelevelmente muitas gerações de farmacêuticos. Mas foi também uma professora universitária que sempre se preocupou em estar próxima da profissão farmacêutica, em conhecê-la profundamente e em entender as suas necessidades e anseios.
É assim que lhe é confiada a coordenação do curso de Nutrição e Dietética, destinado a farmacêuticos, no âmbito do protocolo estabelecido entre as Faculdades de Farmácia de Coimbra, Porto e Lisboa, a Ordem dos Farmacêuticos e a Associação Nacional das Farmácias. Tudo isto ainda nos idos anos oitenta do século passado, quando a formação contínua e continuada para profissionais liberais era tida como “não necessária”…
Acresce, ainda e sobretudo, que a Senhora Professora Doutora Maria Irene Noronha da Silveira sempre se mostrou disponível para desempenhar importantes cargos nos órgãos sociais da Ordem dos Farmacêuticos: foi presidente da Secção Regional de Coimbra, entre 1995 e 2000; presidente da Assembleia Geral Nacional, entre 2001 e 2006; e, em 2007, foi eleita Bastonária, a primeira mulher a ocupar este cargo na instituição, a que acabaria por resignar um ano depois, em virtude de lhe ter sido diagnosticada a doença que lhe viria a ser fatal.
Mas a sociedade também lhe reconheceu muitos e variados méritos que, apenas a título de exemplo, me permito destacar: coordenadora da implementação do Processo de Bolonha nos cursos de Ciências Farmacêuticas, assessorando o Ministro do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação, na área de Farmácia; primeira presidente do Conselho Científico da ASAE – Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica; Académica numerária da Academia Ibero-Americana de Farmácia, instituição que não deixou de a honrar com a organização do já referido acto “in memoriam”.
