
Comerciantes e moradores querem esquecer imagens diluvianas e recorrentes. FOTO ARQUIVO DB/CLÁUDIA TRINDADE
As inundações na baixa da Figueira da Foz ocorrem devido à situação geográfica da cidade, na foz do rio Mondego, e a um problema estrutural relacionado com escoamento pluvial, assumem fontes dos bombeiros e a concessionária de águas.
Quando a precipitação é muito forte e localizada num curto período tempo, na maioria das vezes associada à maré cheia, zonas da baixa, desde a entrada da cidade, passando pelas ruas da República ou Jardim Municipal, entre outras, são mais suscetíveis de inundar, situação que está também relacionada com o aumento do volume e velocidade com que a água corre nas condutas pluviais.
“A Figueira da Foz cresceu nos últimos 20, 30 anos, mas não houve um redimensionamento da rede pluvial. Agora, estamos a falar de uma cidade que conquistou áreas ao rio, sempre houve inundações e vão existir sempre”, disse à agência Lusa Nuno Osório, comandante dos Bombeiros Municipais e responsável do Serviço Municipal de Proteção Civil.
Por outro lado, frisou, com o crescimento da cidade e novas vias de comunicação cresceram, também, as zonas impermeabilizadas de terreno: “uma estrada em paralelepípedo permite escoar 16 a 21 por cento de água. Uma em macadame escoa zero”, indicou.
Uma das zonas onde os bombeiros intervêm sempre que há inundações é em redor do Jardim Municipal, onde se situa o mercado, lojas e o tribunal. A conduta pluvial aí localizada tem origem num curso de água que vem da serra da Boa Viagem, vários quilómetros a norte e continua pela chamada vala das Abadias, antes de se tornar subterrânea à saída do parque verde com o mesmo nome.
Nos anos 1960, o parque foi pensado “como bacia de amortecimento e retenção das águas” antes de entrarem na conduta”, fazendo o efeito de uma “banheira” gigante.
“Enche de água porque foi pensado mesmo para aquela função”, explicou Nuno Osório.
O problema das condutas pluviais começou, no entanto, mais cedo, aquando das primeiras obras na zona ribeirinha, alvo de sucessivas transformações nas décadas seguintes, como a construção da nova marina, entre outras, assinala João Damasceno, administrador da empresa Águas da Figueira.
Se, dantes, as águas pluviais corriam para o rio oriundos de várias linhas de água perpendiculares ao Mondego, a situação foi alterada com a construção dos paredões, em pedra, da antiga doca. Foi feita uma galeria subterrânea na zona da fonte luminosa (junto à Câmara Municipal) para onde passaram a convergir as escorrências, oriundas do centro e zona alta da cidade, antes de entrarem no rio.
Na rua 10 de agosto, que desce até à rua da República, a conduta pluvial vira à direita para a galeria, potenciando inundações, situação que a autarquia está a tentar impedir, abrindo um canal a direito para o Mondego, naquela zona.
Já a tubagem que sucede à vala das Abadias e que também recebe água da zona turística do Bairro Novo, vira à esquerda, “estrangulamento” que João Damasceno gostava de ver resolvido, estando prevista a construção de uma conduta pluvial, a poente do mercado municipal, para passar a receber a água que corre do Bairro Novo.
“Temos de abrir caminho à água pluvial para que corra para o rio. Mas dizer que vai deixar de haver inundações é um disparate, na zona da farmácia [junto ao Jardim Municipal, outrora uma praia, fluvial] quando chove muito e a maré está cheia, se abrimos uma tampa a água está ali a dois palmos”, esclareceu.