“Eu é que sou o rei!”, clamava o jovem empunhando a espada de Afonso Henriques.
Vandalizada a estátua, o jovem sob efeitos etílicos assumia a real personagem. Assim relata a imprensa.
E a imagem de um homem alcoolizado de espada em punho a gritar que é rei bem que podia ser o início de um filme sobre os tempos da governação do Portugal de hoje, as suas políticas, começando pelas culturais, ou a ausência criminosa das mesmas.
Um país sem política para as artes, o património, a cultura ou a educação. Ou que as trata como quem trata o saneamento ou a recolha do lixo.
Alguma coisita se faz pois alguma coisa se tem de fazer para não cheirar muito mal. Ou com políticas sim, mas em tudo contrárias ao seu interesse, de povo e de país. “Eu é que sou o rei!”- vociferam pequenos baronetes em pedestais de barro. Um país em crise governado por serventuários da grande banca internacional.
Uma pátria submetida. “Eu é que sou o rei!” clama o jovem bêbado de espada em punho, numa recreação de estilo barroco de um poder de faz-de-conta. D. Quixote enfrentando moinhos de vento, quando o vento real sopra bufado por troikas autênticas. E por toda a parte pequeníssimos tiranetes vociferam que são reis de uma pátria que quase transformam diariamente em coisa nenhuma.
Felizmente, há luar! E à imagem do jovem de espada em punho, opõem-se imagens de um povo que nos mais duros momentos da sua história se soube erguer. Nessas mais cruas encruzilhadas foram sempre determinantes as classes populares, enquanto os possidentes se bandeavam para o lado errado da história, assumindo-se como vende- pátrias. Assim foi em 1383, assim foi sob o domínio filipino ou sob o domínio britânico pós invasões francesas.
O amor à Pátria, que é amor a um povo e à sua história, a uma língua, à cultura da nossa gente, em nada se confunde com nacionalismo que pressupõe ódios diversos.
“Eu é que sou o rei!” – bradava o jovem enquanto destruía o património. E assim vão fazendo os pequenos governantes. Os mesmos que usam rótulos com a bandeira nacional na lapela do casaco, talvez para não se esquecerem por inteiro que por aqui há um país soberano. Com uma constituição e tudo.
Essa história de terror nascida da revolução de Abril, um acidente histórico que pouco a pouco têm vindo a reparar. Eles são os reis. Muito obedientes, é certo, às ordens do império, da Merkel e dos mercados. Assim, o jovem vimaranense lá vai seguindo os caminhos heróicos destas personagens de opereta. O dramático é que no Portugal de hoje enquanto uns trazem o rei na barriga há cada vez mais quem traga a barriga vazia.