Em 1978, foi desta forma que Jorge Sampaio respondeu ao Expresso, quando, num trabalho alusivo à Revolução, lhe perguntaram se o 25 de abril teria valido a pena.
“Já se esqueceram dos custos económicos e sociais de uma guerra injusta e sem saída? (…) Não se recordam da sociedade bloqueada da direita autoritária, da impossibilidade de acesso à palavra e ao poder? (…) Portanto, “valeu a pena o 25 de abril?” tem um ressaibo passadista que urge arquivar.”
A verdade é que, mais de 30 anos depois, o ressaibo não foi arquivado e a pergunta, aquela que não se faz, continua a ressoar na sociedade portuguesa. Porque alguns não se lembram já da guerra e do autoritarismo, é verdade; mas, também, porque hoje essas memórias comparam já com outras, mais frescas, da própria democracia. E porque esta nem sempre sai bem na fotografia.
Se valeu a pena, continua a não ser pergunta que se faça. Mas é justo perguntar se foi suficiente. E eu acho que não foi.
Colocar em causa o 25 de abril encerra um ressaibo passadista, é verdade. Mas deificá-lo remete para um certa autossuficiência que, Sampaio, de certeza, não pretendia apregoar.
“Parar será morrer”, era assim que Sampaio terminava o seu comentário. E talvez devesse ter sido este o título da notícia.
O 25 de abril valeu a pena, mas a democracia está parada há demasiado tempo. Como a água estagnada de um rio que se aproxima cada vez mais do pântano que Guterres anunciou na noite da sua demissão.
As notícias que nos chegam do PS, sobre mortos que votam e sobre quotas pagas por não se sabe quem, perfazendo somas milionárias por esse país fora – suponho que superiores ao orçamento oficial de qualquer das campanhas – parecem denunciar, de facto, um sistema de jagunços, como tão bem caracterizou o secretário nacional do PS, Álvaro Beleza.
Referia-se, provavelmente, às declarações aviltantes da candidata apoiada por Seguro à Federação de Braga, sugerindo que as quotas pagas a militantes mortos teriam sido homenagens das próprias famílias.
Pois bem, o 25 de abril valeu a pena, mas não foi certamente para criar jagunços, nem para escravizar consciências. E isto é tão válido para condenar a desorientação de Seguro, como o cinismo daqueles que só se lembram destas coisas em tempo de eleições e quando tocam aos seus adversários.
Chateia-me ter em mãos uma democracia pantanosa, mas recuso-me a deixar aos meus filhos uma pocilga. De facto, parar é morrer.
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