Opinião – Descubra as diferenças

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Nuno Jerónimo

Nuno Jerónimo

Agosto de 2014. Um mês mais adequado a notícias das férias dos famosos, ao recomeço da liga portuguesa de futebol e demais curiosidades políticas. Porém, só para o caso de alguém estar a dormir ao volante, a realidade decidiu dar um beliscão aos mais desatentos.

A par dos resultados da execução orçamental (onde o défice continua a subir) e do aumento da dívida pública (sensivelmente mais 2%), aumentou também a receita fiscal. Muito haverá de ser dito e debatido ao longo destes dias. Mas não é para estas notícias (ou não apenas para estas) que gostaria de chamar a vossa atenção.

A notícia/declaração mais relevante dos últimos três/quatros anos foi dada este mês, numa conferência de banqueiros centrais em Jackson Hole, pelo ilustre presidente do Banco Central Europeu, Mário Draghi (há um resumo interessante destas declarações no New York Times de 22 de Agosto para quem tiver curiosidade).

Ao que parece, as condições económicas da Europa estão a piorar, o crescimento tarda em aparecer (pelo contrário!), e os governos da zona euro devem, o mais brevemente possível, alterar a as políticas de austeridade para…(esperem por ela)…políticas de estímulo económico(!?).

Pois é. Parece que afinal tudo o que estivemos a fazer, nas palavras do chefe da política monetária europeia, não está a dar o resultado esperado e que precisamos de inverter caminho ou, talvez mais politicamente correcto de se dizer, adoptar uma nova abordagem.

Para quem possa pensar que estas palavras não têm grande impacto, chamo a atenção para a descida das taxas de juro da dívida portuguesa que, imediatamente após as declarações a que me refiro, baixaram para um valor inferior a 3% a dez anos. Cerca de 0,6% de descida em algumas horas. Claramente que o “Torpedo Draghi” é mais eficaz que três anos de políticas e promessas políticas aos mercados de disciplina e austeridade orçamental!

De volta ao ponto principal, o presidente do BCE afirma (finalmente) aquilo que é (e sempre foi) óbvio: de uma forma simplista, sem estimular o consumo não podemos fazer a economia crescer. Sugere agora o senhor Draghi que se aumente o investimento público e que se cortem impostos.

Dá vontade de dizer: qualquer semelhança com o credo dos últimos três anos da austeridade como a salvação da economia europeia é pura coincidência.

Se não fosse absolutamente trágico o facto de termos persistido numa “cura” cujo único resultado era “matar o paciente”, dava certamente vontade de rir.

Este não é um momento de satisfação para todos os que (como eu) sempre foram alertando para o grosseiro erro desta receita austera imposta pela Europa e, em particular, pela Alemanha.

É, isso sim, tempo de aproveitar a boleia do senhor Draghi, arrepiar caminho e delinear uma estratégia para estimular a economia portuguesa (e europeia) – sem entrar em loucuras ou erros do passado.

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