Maria João Santos tinha 26 anos quando decidiu emigrar. Licenciada em Jornalismo, cedo percebeu que o melhor seria procurar novas oportunidades no estrangeiro.
“Em 2012 fiquei, pela segunda vez, sem emprego. Se, anteriormente, já estava desiludida com o estado do país, sobretudo com as condições de trabalho e os salários miseráveis, ao ficar novamente desempregada decidi que o melhor seria desistir do mercado de trabalho português”, conta.
Natural de Coimbra, sempre quis ser jornalista. Não foi, por isso, fácil renunciar “a um sonho tão importante” que a acompanhou desde menina Ainda assim persistiu no sonho e, antes de seguir viagem para Inglaterra criou um perfil num site de profissionais freelance e começou a construir uma rede de clientes.
“Dei por mim a trabalhar na área da comunicação com sites, blogues, empresas e organizações sem fins lucrativos espalhados pelo mundo. Passados quatro meses tinha trabalho a tempo inteiro e todo este processo ajudou-me a adquirir competências essenciais para sair do país”, lembra.
Depois de ter a carteira de clientes assegurada, decidiu, então, mudar-se para Inglaterra, onde continuou a trabalhar como freelance.
Inscreveu-se em agências de emprego e enviou currículos diretamente para empresas. Entretanto, foi chamada para uma entrevista, a primeira. Ficou com o emprego.
Atualmente, Maria João Santos trabalha na área do marketing digital e gestão de redes sociais numa empresa que gere uma plataforma online de publicidade.
Além do emprego a tempo inteiro, é editora de um site que publica notícias sobre economia digital e é, frequentemente, convidada a integrar outros projetos. “Trabalho regularmente com uma empresa de marketing nos Estados Unidos que me põe em contacto com clientes em todo o mundo: eles tratam dos aspetos técnicos dos projetos e eu crio conteúdo”, conta.
Entretanto, foi convidada a integrar o Advisory Board da Lifeboat Foundation. É uma das conselheiras da fundação nas áreas de New Money Systems e Media & Art e está envolvida em debates que decorrem online.
“Tantas, mas tantas saudades”
Apesar de estar ocupada grande parte do tempo, e de ter o namorado a viver no mesmo país, ainda há momentos em que as saudades doem.
“Custa muito não poder ver todos os dias aquelas que são as pessoas mais importantes do mundo para mim, mas as novas tecnologias ajudam a matar saudades. Sinto muito a falta dos meus amigos também. E da comida! Tantas, mas tantas saudades”, confessa.
Maria João diz que um dia gostava de regressar a Portugal. Mas não para já. “Não me parece que seja uma opção viável nos próximos anos. Aqui sou valorizada e tenho oportunidades de evoluir e crescer”. Enquanto isso não acontece, vai conhecendo uma vida melhor, que em Portugal não teve a oportunidade de descobrir. Lamenta que assim seja. “Penso na minha geração: pessoas extremamente inteligentes que sabem que nunca vão ter a oportunidade de construir uma carreira se ficarem em Portugal. Tínhamos tudo para sermos muito bons, mas demos as chaves de casa a pessoas em quem não podíamos confiar”.
O futuro, esse, faz-se caminhado. A trabalhar, longe da família, longe dos locais onde já sonhou ser feliz. Apesar de tudo, acredita que um dia voltará a ter a chave que alguém confiou a quem não devia. E aí, sim, poderá regressar a casa.