Não é só a crise económica que faz com que a população portuguesa arrisque sair da sua zona de conforto à procura de melhores condições de vida. A busca pelo conhecimento e a interação com diferentes culturas é justificação aceitável na hora de sair. Ana Batista, natural da vila de Ançã, é um dos exemplos.
Filha de pais emigrados em França, Ana Batista, de 47 anos, viajou para o país dos gauleses quando tinha apenas dois anos. Foi em França onde viveu até há cerca de sete anos atrás. Atualmente, vive em Brasília (capital do Brasil), onde dá aulas de História e Geografia num liceu francês. “Para mim, a emigração sempre significou enriquecimento cultural”, assume.
Mas voltemos à geração anterior à de Ana Batista. “Um dos motivos que levaram os meus pais a saírem de Portugal foi porque, na altura, era obrigatório fazer o serviço militar em Angola. Foram para França para poupar o meu irmão”, conta, referindo também as divergências do pai com elementos da PIDE.
Para França, a família de Ana Batista levou os costumes e tradições portugueses. O pensamento do antigo emigrante, que consistia na privação de um certo bem estar do momento para construir, por exemplo, uma boa casa em Portugal a pensar na velhice foi motivo de revolta de Ana Batista, principalmente no período da sua adolescência. Hoje, na casa portuguesa – localizada à entrada da vila de Ançã – que herdou dos pais, a docente revela que “a sabedoria da idade” permite-lhe dar valor e respeitar o esforço dos pais enquanto emigrantes.
Dúvidas em regressar em Portugal
Admite que tem uma “maneira francesa de ver o mundo”, mas afirma que é mais portuguesa do que imaginava. Porém, não se considera francesa, nem portuguesa e “muito menos” brasileira. “Gosto de estar dentro do avião”, afirma, rejeitando as noções de nacionalismo e patriotismo.
Quando questionada sobre a vontade de regressar às origens, Ana Batista não tem uma resposta concreta. Recentemente, conta, a professora de História e Geografia considerou mudar-se para Lisboa ou Porto, onde havia a possibilidade de lecionar num colégio francês. “A experiência até podia ser interessante, mas não quero que me vão buscar os meus impostos”, justifica, explicando que o governo português impõe o pagamento da diferença entre o valor dos impostos que paga em França e o que pagaria em Portugal.
“Eu gosto de Portugal de passagem”, admite Ana Batista, recordando os verões que passava na “aldeia”. “Portugal era o jardim encantado, com sol e com liberdade. Tudo era permitido, eu tinha liberdade para passear com a minha prima, ir à praia, chegar a casa tarde”. A dicotomia entre a “cultura da lamentação” e a sua “postura positiva” é mais um fator de dúvida no que toca a questão de um eventual regresso a Portugal.
Ao DIÁRIO AS BEIRAS, Ana Batista considera problemática a emigração da juventude portuguesa. “É escandaloso”, refere, apontando como exemplos o corte nos salários e os estágios não remunerados. “A juventude tem que fazer política e tem que retomar o poder que é dos jovens”, conclui.