Opinião – Queimando os últimos cartuchos

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Gonçalo Capitão

Gonçalo Capitão

Com franqueza, não entendo nem o alarme nem o espanto com os resultados das eleições para o Parlamento Europeu.

Andam os políticos europeus e os nossos servidores lusos a rasgar as vestes em sinal de indignação, quando conhecem de ginjeira a explicação de uma abstenção de proporções bíblicas e da ascensão das propostas extremistas e demagógicas.

Sejamos claros: desde logo, o Parlamento Europeu, na realidade, interessa a deputados e assessores que vão para o dito areópago anafar a poupança. Podemos argumentar com os tratados e a sua importância na construção europeia, mas a verdade é que está para vir o candidato que me convence de que podemos “riscar” o que quer que seja naquela salada mista de centenas de almas e dezenas de nações. Creio mesmo que, nunca como antes, se tinha replicado com este rigor de ourives a Torre de Babel.

Para o cidadão que conta os tostões para pagar contas, que enfrenta filas intermináveis para chegar ao segundo emprego ou que definha com um mísero subsídio de desemprego, Bruxelas e Estrasburgo estão longe demais e soam a castigo para os países que caíram na ratoeira dessas troikas e afins que resolveram ganhar algum dinheiro, em vez de exercerem plenamente os ideais de solidariedade de uma Europa que, cada dia mais, se assemelha apenas a uma grande superfície comercial.

No plano concreto dos resultados, creio que PSD e CDS podem manter esperança em relação às próximas eleições legislativas, dado que a recuperação económica pode ajudar a anular uma desvantagem que não foi excessiva (algo que pode ser ainda potenciado por uma eventual batalha no seio do PS).

O PCP afirma-se como a proposta séria à esquerda do PS, e o Bloco de Esquerda, como há anos venho escrevendo, cai finalmente para os patamares devidos a um partido que nunca teve um cimento ideológico ou sequer um programa coerente.

Surpresa com Marinho Pinto? Nem tanto… O seu estilo trauliteiro e em voz alta vem, precisamente, suprir o papel de contestação de ocasião que fazia o BE, de que aliás o ouvi, em tempos passados, confessar-se apoiante.

Trata-se de um homem inteligente e que sabe cavalgar a onda do momento, como fazia na Ordem dos Advogados, na qual defendia os “descamisados”, sendo, legitimamente, o primeiro Bastonário remunerado. Creio ademais que, sem jamais ter o meu voto, poderá ter vida longa, visto que se trata de um projecto unipessoal e de um individuo conhecedor das leis e do sistema político.

Nota conclusiva sobre a vitória da extrema-direita em França e a sua subida noutras paragens: como já escrevi e disse várias vezes, trata-se, nada mais nada menos, de uma consequência da mediocridade da maioria das classes políticas clássicas. Bastando olhar para o burgo, vemos como presidentes de circunscrições partidárias se entretêm a promover lacaios obedientes e exterminar qualquer assomo de carisma ou pensamento independente. Até ao dia em que até a eles se lhes acabe o poleiro…

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