Sou contra as praxes porque sou contra todo e qualquer processo de domesticação do ser humano. No entanto, basta assistir às reacções que suscita a recente tragédia da Praia do Meco para se perder toda a esperança de podermos, algum dia, vir a ser um país de gente responsável. Os portugueses continuam a acreditar que os problemas e as desgraças se resolvem com caneta e papel. Uma pessoa senta-se numa cadeira começa a legislar, a proibir isto e aquilo, e nunca mais morre ninguém.
Todos conhecemos o conto da Bela Adormecida em que o rei e a rainha, à boa maneira dos portugueses, mandaram cortar todos os espinhos do reino para que a sua filha não se picasse quando chegasse aos 16 anos. Todos os espinhos foram cortados e, azar dos azares, a sua filha chegou aos 16 anos e picou-se. Agora os nossos reis e rainhas querem proibir todas as praxes do reino para que os jovens passem a ser responsáveis, a deitar-se cedo e a deixar de ter brincadeiras parvas??!!!…
Não temos um mínimo de racionalidade. Tanto pedimos a pena de morte para o assassino como, passado pouco tempo, estamos a clamar pela sua libertação.
Somos um povo que os fariseus facilmente manipulariam para conseguir a libertação de Barrabás e a crucificação de Cristo. Os mesmos portugueses que, num dia, recebem alguém de forma triunfal são os mesmos que, no dia seguinte, são capazes de pedir a sua crucificação. E a prova disso é o julgamento sumário do jovem sobrevivente com base exclusivamente em suposições e na manipulação das emoções por parte dos novos fariseus.