A ideia agrada-me e poderá entusiasmar muita gente. Foi proposta por Miguel Sousa Tavares, no Expresso (Revista) de 28 de Dezembro, suponho que dentro do espírito de adivinhar o futuro com que o dito jornal se tem andado a entreter.
Mas, segundo a ideia de MST, o futuro está aí, pois prevê a criação do referido União Mediterrânica para 2017. Ideia com muito de utopia e outro tanto de realismo. Não esquecer que o sonho de uma Europa Unida apareceu também, a alguns visionários, a partir de uma história de séculos de conflitos e morticínios em tudo contrária a ela. E no seio de uma Europa desfeita por uma guerra maior e mais mortífera que todas, onde os ódios tinham alcançado a eficácia de uma destruição quase integral. E, apesar de utópica, em sessenta anos, o que se avançou na Europa e evoluiu, em paz, em progresso, em bem estar e até em espírito europeu, são um caso, apesar de tudo maravilhoso, magnífico, e de que todos nos devemos orgulhar. E muito.
Mas, face a certas condições políticas que nos estão a afastar desse espírito europeu, da crescente onda de nacionalismos que, entre os europeus, estão a pôr uns contra os outros, e em virtude de condições tão duras para os mais pobres impostas pelos mais ricos, acho que é tempo de parar para pensar.
E talvez a melhor maneira seja de facto imaginar uma união dos povos do Sul. Que, como se sabe, têm riquezas mal aproveitadas, desvalorizadas e mal distribuídas, e que estão a precisar de uma estratégia a partir das suas motivações e energias.
Uma coisa é certa: em termos culturais não devemos nada aos do Norte. E uma vez que os pobres só têm vantagens em unir-se, e nenhumas em, cada um por si, tentar obter as boas graças dos senhores do dinheiro e, portanto, do poder político, a ideia está a ganhar grande adesão entre os cidadãos.
Em que consiste a União Mediterrânica? Desde logo, numa «saída em conjunto do euro e da própria União Europeia levada a cabo por todos os países do Sul», os desdenhosamente conhecidos no Centro e Norte europeu por PIGS, ou seja, porcos: (Portugal, Italy, Greece e Spain) e também Chipre. Prevê-se a entrada na U.M. dos países do Norte de África, numa primeira fase Turquia e Marrocos e, alguns anos depois, Líbia, Tunísia, Argélia e Egito.
Depois de concertarem entre todos uma estratégia conjunta para pagar as dívidas, os países do sul formarão uma união económica alternativa. Onde não haverá política externa comum, nem moeda comum, nem política agrícola comum. Mas haverá uma zona de comércio comum, uma união aduaneira e uma fixação única de taxas dos produtos da EU. Haverá livre circulação de pessoas, produtos e capitais, e políticas comuns em matéria fiscal, legislação laboral, investimento externo, comunicações, seguros, banca, saúde, segurança social, e ainda um orçamento comunitário comum. Não são competências da UM posições comuns relativas aos «hábitos religiosos, de saúde, de moral, de comportamento, de educação e de cultura, estabelecendo, em contrapartida, que só estados com Constituições e formas de governo democráticas» poderão ser admitidos.
Assim, em poucos anos podemos pensar numa união dos povos que, em volta do Mediterrâneo, deram origem à civilização ocidental, e através de Portugal e de Espanha a levaram ao resto do Mundo: Africa, Américas, Ásia, Insulíndia e Austrália, enfim, ao Mundo todo.
Tendo uma funda base histórica, cultural e espiritual tão antiga, e algumas matérias-primas tão modernas, como não pensar na possibilidade de passar da utopia à realidade?