A data das próximas eleições foi marcada por forma a só serem conhecidas as decisões a incorporar no OE após a escolha autárquica. Só isso já nos faz prever que a temperatura política será deslocada do verão para o outono.
Com a entrada do OE2014 no parlamento, o governo não pode mais esconder a listagem de cortes sociais e um eventual paper sobre o papel do nosso Estado.
Os efeitos recessivos com essas medidas e a natural quebra de confiança marcarão os próximos tempos após o alívio veraneio. Da prisão domiciliária passaremos para trabalhos forçados. No próximo mês saber-se-á da decisão do PR sobre a remessa ou não para o TC da proposta de cortes de 10% nas pensões. Como se espera que a decisão seja de reprovação virão novas medidas de substituição que neste momento se desconhecem.
Também em Outubro conheceremos a composição do novo governo alemão, assumido patrão europeu. Embora não se esperem grandes alterações o terminar da campanha eleitoral pode criar um ambiente mais distendido favorável à renegociação do nosso plano de resgate.
Mesmo que apareçam outros sinais positivos o pacote de restrições irá ter um forte impacto que, inevitavelmente, produzirá uma onda recessiva que obrigará à discussão do montante dos juros da dívida que estamos a pagar e o seu escalonamento no tempo. Isso implica um défice orçamental com redução mais escalonada, aliás na linha do estudo do FMI, agora conhecido, que conclui que cortar o défice demasiado depressa pode ter efeitos contraproducentes na evolução estabilizadora da economia.
Terminado o período de alta no turismo, Outubro será o mês de todas as decisões com vista a libertarmos o acompanhamento da troika. Será o período mais crítico do ano onde o cenário de crise política se poderá colocar se como até aqui o PS permanecer como alternativa e não como acompanhante. A questão da descida de impostos (IRC) poderá ser, a curto prazo, uma fonte de divergência entre o PSD e CDS.
Os mercados financeiros, na expetativa, deram sinais que a situação política não está estável e isso fez subir os juros da dívida soberana, a 10 anos, para um valor acima dos 7% e pôs de pé atrás as empresas de notação financeira.
A agravar a situação o país está atrasado na aprovação dos regulamentos do novo quadro de fundos comunitários a aplicar entre 2014/2020, importante instrumento para alavancar algum investimento reprodutivo. A este propósito conviria promover maior debate, com mais participação dos agentes regionais. Considero que a atual política de tábua rasa fomentou as diferenças entre interior e litoral pelo que se torna necessário aproveitar os próximos fundos comunitários para terem aí um papel corretor. Por último, e não menos importante, após as eleições será a conclusão das avaliações da troika. Do seu resultado se ficará a saber o grau de exigência que colocarão nas medidas a aplicar em 2014 para podermos avaliar se um segundo resgate estará no horizonte próximo. A existir o governo fica sem condições de culpar, como até aqui, quem quer que seja, senão ele próprio. Confirmar-se-ão as piores previsões de Gaspar e a justificação da sua saída.