Ao longo das últimas décadas fomos construindo um país diferente e melhor. Certamente com erros, com injustiças, com desigualdades, mas sempre com a certeza que o dia seguinte seria melhor do que o que vivíamos e muito melhor que os dias passados.
E, manda a seriedade que se reconheça, a sociedade portuguesa experimentava já, nos últimos anos do anterior regime, reprimida e sem liberdade, algumas mudanças significativas no que ao seu bem-estar dizia respeito.
Quando hoje o país se orgulha de ter uma geração jovem invulgarmente bem preparada, é bom que tenha consciência que está a falar dos filhos daqueles que, pela primeira vez em Portugal, tiveram acesso generalizado à escolaridade e, diga-se, à escolaridade na escola pública.
É que não há desenvolvimento, progresso, crescimento sem instrução.
E, sobretudo, não há igualdade sem acesso de todos à escola, à mesma escola. A uma escola que tenha um programa e uma qualidade que constituam o padrão que a comunidade considera o adequado à formação dos seus jovens.
A escola universal, igual para todos e tecnicamente capaz, é requisito essencial para uma sociedade mais igual e de iguais. Para uma sociedade de cidadãos.
Quando, sem nenhuma razão compreensível, se acaba com a obrigatoriedade do ensino da língua inglesa na escola primária, o que está em causa é muito mais que o ensino da língua inglesa.
O que verdadeiramente se está a dizer é que há duas escolas – uma para os que podem pagar e outra para os que não podem.
Uma escola que é condição de igualdade e outra que deixa o perene ferrete da desigualdade.
Uma escola pública para os que não têm recursos ou alternativa e uma escola privada, parcialmente paga pelo Estado, que distingue e diferencia quem a frequenta.
A posição dos poderes públicos sobre o ensino da língua inglesa é muito mais do que isso. É o reflexo de toda uma concepção de sociedade.
Infelizmente estamos a regredir décadas num aparente “ajuste de contas com a história”, feito por quem só terá chegado onde chegou porque a história recente do país foi o que foi.